domingo, 21 de março de 2010

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eu ando apaixonado por cachorros e
bichas

porque eles sabem que amar é abanar o rabo, lamber e
dar a pata

terça-feira, 16 de março de 2010

extravagante demais, ácido demais

faço o tempo correr mais rápido desde então. engulo todas as horas voraz, cada parte de segundo descendo pela minha garganta, áspera. deixo para sentir melhor e maior o tempo para quando eu puder me dar toda para o seu amor, que exige horas longas e pesadas, intensas e constantes de conhecimento das tuas miudezas; porque, por absurdo que seja, ainda não pude te deixar. por enquanto, sou só e aguardo chegar o inverno de meus dias, quando folhas secas possam enfim cair, deixando sair, tosco ainda, o novo. depois os ipês florindo, dourados reinando sobre nossas cabeças, convocando os amantes às ruas; tudo feliz, ao menos em tese.
tudo se divide em semanas, tão rápido me passa. segunda-feira é dia de me vestir de Gente, do que quase me convenço durante a semana. mas, para minha sorte e perdição, no primeiro segundo da sexta-feira já me vem o tinhoso, me jogando em qualquer alucinação barata e acabo eu tendo a certeza que a verdade do mundo está nas ruas, e beijo fundo essas bocas que encontro, na tentativa de provar que não preciso de você, que outros me amam mais e melhor e que já me esqueci como era teu beijo, que nada vale mais para minha vida o veneno fraco que colocasse em mim... frustrada. porque era esse teu jogo, que eu me embriagasse lento com este veneno agridoce e logo depois precisasse de mais, de doses maiores e mais concentradas.
e falo do que passou e do que você me deixou; vícios irrecuperáveis, vida e morte de toda e qualquer esperança inútil, um princípio de enfizema pulmonar, infarto do miocárdio e mais o quê? o grande vazio nos olhos agora de vidro, areado e fosco. é claro que me precipitei, que enxerguei pactos no escuro, me meti toda na tua vida sem licença porque tudo é meu, mas você não era minha, só você e por que exatamente não poderia, que a quis. e no amor, eu tomo posse. o verbo é ter, não vou mentir. mas nada existia e você me vendava os olhos como quem quer fazer doer menos, segurava minha mão conduzindo uma criança para a sala de vacina e me olhava triste, meu deus você me olhava já sabendo que ia doer e que nada poderia fazer. e que viriam outras dores, quer dizer, você sabia que nada poderia fazer pelo meu amor, que era extravagante demais para você se vestir dele, talvez ácido demais para teu paladar discreto, e que seria necessário me machucar, de vez em quando. você me achava forte.
tudo passou, já não te vejo mais e não sei de ti. mas ainda penso em deixar os cabelos crescerem para você e penso ainda em teus caprichos de menina, que talvez seja uma questão de tempo para eu enfim atendê-los mais uma vez. o que você vai fazer com tua vida? a minha ainda anda presa a você como a vidas passadas, teu semblante surgindo ameaçador e incoveniente por entre as memórias, no meio do dia, do trabalho e mais constante, do sono. só o peso do que já vivemos alguma vez, certo lugar, mas que ainda não passou, prendendo meus passos no chão como grandes placas de concreto. de certa forma, abandonamos a obra pela metade porque passamos a não gostar mais da idéia inicial, deixamos aquele pedaço em branco mesmo, esquece tudo isso, não é arte, não é amor.
faça o que quiser, me prove que eu estava errada, me puna e me deixe ir. se perca com os teus amores pueris, que como eu, também são insensatos e te consomem. assuma as tuas dores e faça as tuas escolhas e as tuas perdas. mas a mim, que carrego o místico, esqueça simplesmente. não é preciso se preocupar com nada. nossos sonhos à noite guiarão nossos passos durante o dia. e assim, no auge dos nossos vinte-e-poucos-anos, mas já carregadas de nostalgias, correremos sobre o mundo pisando e esmigalhando toda a antiga verdade dos tolos que simplesmente vagam bovinamente, pastando e digerindo merda. nós, em uma tarde vazia de janeiro levemente ensolarada, em que nada mais houver para correr, talvez nos encontremos sem combinarmos, e com as mãos já marcadas - o tempo - exterminaremos todo aquele branco deixado para trás e criaremos, juntas, alguma coisa que alguém muito simples possa olhar e chamar, enfim, de bela.

sábado, 13 de março de 2010

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não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado

quinta-feira, 4 de março de 2010

saudade, vai tomar no cu

todos os dias assim que eu acordo me renasço, de mim mesma, eu mesma faço o parto e dói. e meus sonhos são sempre também metade pesadelos, porque me lembram de algo que eu na realidade não fiz e de lugares dos quais não pude trazer nada de recordação. quando me prosto a este mundo, meus ombros caem no resto de minha carcaça cansada e minhas pernas pesam o peso de minha consciência e assim me arrasto durante o dia. o corpo, a cabeça, outra parte, distante, nada me liga ao corpo e mesmo assim ele vai a muitos lugares durante o dia, e minha cabeça vai a tantos outros, melhores e desejáveis e quando durmo, até muitíssimo indesejáveis. a saudade faz essa coisa, mutila meu corpo. pegou assim minha cabeça e levou para um santuário secreto ao sul de qualquer terra maldita. e ali fico cultuando tudo e todos que eu não tive. a saudade é qualquer coisa que te pega assim que te acorda. mas há que levar a vida. e andamos em frente, por fora todas as coisas multicoloridas do mundo e todas as pessoas passando, deixando, passando e nos deixando. me dando coisas suas para que eu as guarde. eu jogo tudo fora porque não quero nada a mais daquilo que ainda não tenho e que não posso ter. dispenso tudo o que tenho porque já tenho e a melhor coisa que se pode fazer com algo que já se tem é não ter mais. guardar jamais, guardar não. guardar não dá em nada. bom é ser vazio. e deixar tudo passar, parar jamais, tudo passando e tudo novo. novíssimo, o brilho do novo para todos os lados. a saudade faz isso. desvaria a gente durante as horas inapropriadas e cria grandes buracos nos dias e nas noites, que a gente até tenta preencher, com tudo o que se vê pela frente, mas é como um quebra-cabeça. não há o que se encaixe a não ser o que devia estar ali. eu preencho tudo de mal jeito e mal gosto, mas me sinto a vontade no erro, e sigo. a meta é não guardar mais nada e o que tiver jogar fora. jogar fora as pessoas que não se renovam dentro de mim e que não se tornam outras e assim, também eu não me torne ultrapassada. eu quero o novo. tudo e todos que são parte de mim ficarão, como aquelas que são meus braços ou minhas pernas, ou até minha cabeça. a cabeça é de tudo e de todos, joguei fora há muito tempo e não faço questão de reavê-la. mas meu coração, meu coração é meu, e ele é a única coisa antiga e ultrapassada que eu vou ter dentro de mim, de resto tudo novo. saudade é pra quem fica parado e espera. não quero mais. beijos.