domingo, 20 de setembro de 2009

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

catavento

talvez coisas que a gente nunca devesse ter feito ou dito. um dia parado, sensação do tempo corroendo as entranhas, o dia e os pensamentos nublados e cheios de sombras, aquela tentativa desesperada de sanar a ansiedade no banheiro, escondido de todo mundo; e depois o medo. a paranóia, tudo junto vindo como nunca viera. muita gente em volta e ninguém por perto, a avacalhação da própria alma, o receio e o desejo da solidão; ainda mais depois de ter abandonado tantas coisas nos últimos tempos e por escolha própria. o dia seguia. o caminho que escolhera talvez fosse todo assim, escuro, meio frio e parado. mas já não tinha como voltar atrás; participara de um tipo de ritual inconsciente de si mesma, e agora deveria fazer do amargo o seu gosto, de sombrias as suas idéias e sentimentos, e o amor, bem, este lhe traria sensações de náuseas, convulsões e perda dos sentidos; resultado do acidente que sofrera em agosto. não conhecia mais o romance. repulsa, era a reação primeira em face dela. era bem verdade que se sentia cansada e não acreditava mais em ninguém. o dia ia. tudo estranho, pessoas sozinhas em salas com móveis que cheiravam a tempo, todas elas cinzas, tudo parado e morto. ou, ao menos dormindo, um sono pesado cheio de pesadelos; pre visões do outro lado do mundo, ou do outro lado da rua. a sincronicidade das maldições de sua nova vida acontecendo a olho nu, todos os fatos ligados para afetar-lhe cada vez mais, e tudo previsto em pesadelos que duravam toda a noite, quando dormia. se perguntava, naquela tarde, se valia a pena seguir agora. o porque de cada minimo detalhe de seu moroso cotidiano, achava tudo chato, apenas insuportável. não queria sentir o vento passar, mas ir junto. entretanto, ficara. pensara que se pudesse alcançar aquela janela do oitavo andar, poderia voar para longe, feito papel solto na rua ou quem sabe um catavento solto no ar. mas não tinha certeza, era bem verdade que se sentia casada e não acreditava mais em nada. sabia que agora era de pedra, e tinha medo.

domingo, 6 de setembro de 2009

onde foi que perdi minha embriaguez?

então, é isso. está tudo acabado para mim. onde fantasiar minha felicidade se o álcool já não me afeta mais? como forjar minha segurança amorosa se ao beber continuo triste, feia e sóbria? como fazê-los acreditar na minha maturidade emocional se ao me ver, todos sabem que em mim já não há mais coração que bata? estou perdida. não sei mais o quê nem quanto beber para me alegrar. a cerveja do fim de todos os dias, a vodka das noites de frio, o vinho para a lua cheia, a cachaça brejeira, nem os drinks de absinto nem a nossa paixão brasileira, a caipirinha, nada. me sinto desolada e mais só do que nunca estive. poderia perder meus amores - como perdi -, meus amigos e até minha vontade de viver, mas para tudo isso existiria sempre um copo de cerveja para me ajudar a engolir o choro. a vida agora deve ser levada com sobriedade e sem nenhuma graça, daquela felicidade embutida nas tão amadas garrafas. onde foi que perdi minha embriaguez? ficarei por aí como quem não vê, não ouve, não vive. estarei incógnita e invisível para os outros, não terei mais cores. sofrerei dessa separação por completo, sem anestesias nem fantasias. poderiam ter me levado tudo, menos o meu torpor, mas m'o tiraram e em troca deixaram apenas uma enorme dose de realidade. que ainda não tive coragem de beber, apenas provei e não me agradou muito o paladar. nem poderia. deus deve estar tentando me reabilitar forçosamente, depois de ver que de nada adiantaria colocar pedras de "aprendizagem" no meu caminho, nem mandar avisos. castigo, mandinga, seja o que for, por favor, me tragam devolta minha ilusão. há possibilidade de recompensa.
por agora, não sei o que fazer.


ps.: na verdade acho que lembro onde perdi minha embriaguez. mas acho que não há possibilidade de reavê-la, porque esse era o pior castigo que alguém poderia me dar, e assim o fez. arranque meu coração, meu orgulho, minha fé no amor... mas devolva minha embriaguez, por favor.