domingo, 20 de dezembro de 2009

sobre o tempo no rio IV

lembro com clareza de quando soube que poderia existir duas ruas com o mesmo nome, lembro daquela descoberta quase infantil ali no meio dos grandes, soei ridícula: "mas como assim que uma rua onde mora uma pessoa pode ser confundida com outra?". foi mais ou menos assim que cheguei aqui, quase parecendo inocente - na realidade, burra - com medo mas sem esperanças que desse alguma coisa certo, queria só ver no que dava e fui indo, indo... cada vez mais, porque o medo a gente vai curando e continuando viva, não tinha porque parar. coisa de criança. talvez eu escreva para uma, talvez para duas, qual é meu desejo, minhas pedrinhas. tanto tempo esperei para isso... é que me faltava um pouco desse ar fecundo de desejos que só rola lá pelas esquinas místicas do centro do rio, que sempre fica bonito pela noite, tantas noites que perambulei com o vento nos pés, o céu na cabeça. mas enfim, dezembro não passa em branco - nem só nas cores feias da decoração de natal.
eu até tentei guardar tudo, mas como não tenho lá tanto talento para guardar coisas assim como uma cômoda, perdi algumas coisas. perdi várias delas pela rua da memória. no final dá no mesmo, porque viver nas horas é fácil, difícil é contar os segundos. e foi prestando muita atenção nos segundos que eu vi aquele instante em que o destino muda, suspiro abafado no escuro. não querendo desmerecer o poder das cartomantes e afins, elas estão certas, estão certíssimas mas apenas naquele momento. quando viramos a esquina da pobre médium já se muda tudo o que se disse. destino existe, regina, mas é a gente quem decide se vai ou se fica. não segui teus conselhos, regina, quão inapropriados eram para mim! ah, você sempre soube deste detalhe mas não quis me dizer. você não teve medo de facas, nem de mais nada; você sabia que às vésperas do crime o homem se redimiria, quem sabe até em choro, grande ato! ciúme é de praxe, afinal. não houve sangue e você sorriu, segura de si. pra você o nome é amor, eu chamo de sorte, mistura de destino e livre arbítrio. as pessoas dão o nome amor às coisas mais absurdas, aleatórias e indiscriminadas; entretanto não se pode culpá-las, não se fala de amor sem antes ter morrido dele, silêncio.
de uma coisa sei: não envelhecerei; não posso. não poderei passar no tempo sem minhas pedrinhas, uma que fosse, eu passaria. mas não: tô parada procurando os vinte e poucos anos que você me fez gastar por aí. como envelhecerei sem você? quem irá balançar a cabeça, afirmativa, quando eu contar as histórias fantásticas que só nós sabemos? não posso. terei um rosto plástico, assim como quem não viveu, como quem não chorou, como quem não amou. o que cá entre nós é uma puta injustiça.
vejo teu retrato antigo que me faz pensar em tempos melhores, findos, quando ainda não existia a amargura, essa coleção de coisas que vão sobrando do que por vezes cismamos chamar amor, e a gente vai juntando - porque história não se joga fora - e ficando pesada, cada vez mais pesada. mas é assim que é: não dá pra jogar nada fora. mas gosto de olhar teu retrato, te ver menina e te saber simples, ainda não capaz destas ironias finas que praticas sem sucesso por aí ultimamente. não use de ironia e deboche comigo, querida. prefiro que se dirija a mim na tua própria língua, que eu não entendo, mas pelo menos não soas vulgar. eu olho teu retrato, mas não por muito tempo: baixo os olhos com medo do teu semblante ameaçador e sinto a ponta lá daquela amargura, rápido procuro outra coisa para fazer, ligo a tv, quem sabe.
o ano meio que se foi todo assim, ano de transgressões imensas, sentimentos altos, profundos - tanto ao céu quanto ao inferno - que eu cuidei de procurar, assumo, ano de sóis insuportáveis e tempestades avassaladoras - uma hora ela cai -, ano ventado na cara, ano veloz. mas tanto, que agora só posso ficar quieta vivendo as horas, ignorando todo o resto do mundo, arrogante que sou. vou voltar ao início de tudo, cara. você vai ver e vai saber reconhecer quando me ver. aquele reencontro vejo em grande estilo, gosto de cenas dramáticas. o importante, entretanto, será esquecido: apareceremos juntas num dia de julho, um sol pretensioso que só no céu, tomando grandes cappuccinos ou qualquer outra coisa que termine com ccino e nos dê um ar vulgar de café francês aqui no brasil, rindo alto, estalando os saltos ou arrastando chinelos, diante do quê o senhor que acabou de nos vender o velho cigarro ficará pensando, perplexo: "mas como?".

sábado, 12 de dezembro de 2009

retratos abstratos do dia

eu ainda te vejo acender o cigarro meio triste na rua principal da cidade indo pra não sei onde que te disseram ainda pouco no telefone (agora desligado) que marcaram pra tomar uma cerveja, comer batata frita e contar dos últimos informes da terrinha. te vejo ainda parada no ponto de ônibus com seus óculos escuros fumando aquele cigarro e pensando no corte do cabelo e em misérias globais. andas com todos para todos os lados, só vai aonde te levam mas voltas para casa todos os dias sozinha. e acha daquilo a pior e a melhor coisa da tua vida. não importa. seguiremos para quando? fugiremos atrás do quem sabe, do talvez. e talvez esteja você agora em seu quarto dormindo, sonhando coisas estranhas ou quem sabe muito quieta tentando esquecer o último. ainda que mil vezes tivesse que te ver ir embora, assim seria. mas não foi, só ficaram comigo os milhares de adeus que eu te teria dado. ah, sim. ainda frequento os mesmos cais, as mesmas praças à beira mar, os mesmos cantos. mas vejo coisas que também você vê, não me enxergue muito mal, seja nítida e precisa comigo. até que você decida pegar outro ônibus, até que alguém passe na rua e te reconheça, até que o tempo acabe, o meu tempo, eu ficarei aqui parada nesta plataforma sem poder sair ou partir para outro lugar. estarei imóvel, nossas linhas se cruzando, se emaranhando e me soltando, aos poucos, devagar.


tudo o que vai, volta na próxima estação

eu vou ficar parada em cima da plataforma
daquela estação
vendo partir o todo para o fim, e eu ali

passando, passando, passando

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

bom dia, saudade

hoje acordei sentindo saudade por causa do sonho. que eu nem lembro mais, esqueci assim que abri os olhos mas ficou aquele mal estar, aquela sensação de 'cadê?'. flashes vindo durante o café, nada claro e nem adianta tentar refazer os caminhos, são apenas imagens desfocadas. só aquela enorme saudade ocupando todos os cômodos da casa, grande, inundando tudo e silenciosa. saudade eu nem sei do quê exatamente, mas que acabou ficando saudade do que eu quis. então comecei a sentir saudade de cheiro, cheiro de marisco, cheiro do cigarro misturado com perfume e cheiro de lírio abrindo na janela. e daí comecei a sentir saudade dos sons de vozes e das músicas e até de ronco de porta e do barulho de passos no corredor, que certa vez tanto me perturbaram e tiraram o fôlego. sentindo saudade de cheiro e som, então caí por lembrar das pessoas, já que elas são feitas disso tudo. mas quando já ia me surgir um rosto para culpar minha saudade, voltou tudo ao início e eu já não lembrava mais de cheiro nem de som de nada, só o tempo ventando na poeira acumulada em mim, só o som do vento batendo no exalar do perfume de flores já secas, só uma saudade imensa eu nem sei do quê.

domingo, 15 de novembro de 2009

eu bem que me digo

se houvesse tantas pessoas no mundo quanto nos dizem sempre, talvez eu não tivesse de tomar o rumo que sempre tomo. alternativa não é lá uma boa palavra. eu só quero tomar posse do que é meu, mesmo que seja o mesmo, do mesmo, do mesmo de sempre. rodo, corro dando voltas, fico tonta demais, sempre muito tonta e acabo batendo lá. e eu nem saí do meu lugar, não tem nada a ver com lugar (embora agora seja necessário ficar). acabo batendo aqui, dentro desta cabeça, fico presa, bato em todas as paredes, me machuco, saio, vou pra longe demais e depois volto. só o tempo de respirar fundo, estou eu lá de novo. e lá não é bom. digo a mim mesma: larga essa vaidade, menina! pára de querer perambular por lá, por aí... sobe, desce, anda e só retrocede. ouvi, outro dia, uma coisa assim dizendo que esperança é com o quê se constroem armadilhas, e é. olha que eu já ia pintando um quadro lindo, me pensando astuta, cheia de botões de segurança disso e daquilo, remedinho pra isso, remedinho pra aquilo, e só até aqui que eu vou, dali não passa e não sei mais o quê... armadilha, armadilha. que eu pensava não cair de novo, mas é quando estamos mais obstinados que as armadilhas se vestem com as mais belas palavras e promessas e se colocam nas mais paradisíacas paisagens e sempre inocentes e inofensivas. parece papo de igreja, mas nem é. é fato que as coisas da vida te conduzam a lugares e pessoas e situações não muito favoráveis. e tornando público que eu já conhecia todos esses lugares, pessoas e situações, por que seguir tudo isto mais uma vez? não há fato novo, surpresa, regeneração ou mega sena que mude as coisas... só o tempo que às vezes nem muda as coisas, mas dando sorte te muda. eu bem que me digo: pára de teimosia, menina! mas às vezes preciso que me lembrem, como agora.

mas deus sabe que eu gosto é de chuva, que eu gosto de vento na cara e eu gosto mais de frio. eu gosto de chuva e ficar enterrada dentro de casa com medo de trovão, vendo os fios do poste estourarem todos, fazendo faísca na janela. e eu gosto de vento que move tudo, que vai pra todos os lugares e ninguém vê. e eu gosto muito de frio, assumo: prefiro muito um dia muito frio a um dia muito quente. que se danem todos nas praias! eu quero é ficar debaixo de coberta tomando sopa!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

+Baby


só queria dizer que senti falta de mim e quando pensei em mim, lembrei de vc e somente vc.
senti falta do que nunca houve, do que imaginava, do que não me importava, do eco que sinto dentro das roupas que não vejo mais vc usar, daquilo que me esqueçi aí e espero que, quando elas caem do seu guarda-roupa, exalem o meu perfume, a minha ausência e q vc caia na tentação de me avisar que as queimou, que perdi e perdemos entre as cinzas qualquer rastro que nos faça retornar. Mas que grite, maldizendo, amaldiçoando todo o resto de vida, que ainda sabe onde moro, meu telefone, meu email e tudo mais, só para que eu saiba, que não poderei te ameaçar, sabe onde me achar caso queira me enforcar, me atacar e me avise para articular um crime perfeito. Pois é, vc chega e derrama tudo. Derruba meus olhos, minha língua trava ainda mais, tremendo eu já estava desde que apreciei a idéia de lhe escrever, minhas palavras só saem quando estou distante, meu "o que quiser" é isso mesmo, o que quiser.
Benzinho eu ando pirado...
e pirar é o q me motiva a te escrever, gostando vc ou não. Já engoliu tantas coisas, mas lembro mesmo de quando eu te engolia. E gostavas... Por gostar tanto se esquivava, me largava e fugia, já fugiu pelo mundo inteiro, até me negou! Negamos para o papa, que nos separaríamos novamente. Fomos por todos os lados e acabamos lado a lado. Não juntas! Nunca fomos juntas, juntas não daria nada, absolutamente, nada de nada de nenhuma merda. Fomos a própria merda, completas.
Estou assim.
Somente em parte.
Parte daquela parte, que não reflete a outra, mas vai. Mas cola e não enrola. Não me enrola, vai...
vem?
Aliás, não venha...
Continue assim, me fazendo delirar, te tornando poesia, meu tempo perdido, como todas elas fazem mas vc me esnoba (elas tb, mas idaí né?!)! Me ranca a ira e alivia por ter ver bem, dopada, embriagada, ainda mais apaixonada por não sei quem e nem aí, nem aqui, nem nos outros contatos afora. Foi-se pra casa do caralho junto com meu próprio juízo.
Baby... não seria bom se não fosse deste jeito.
Eu te amo, te como, me envolvo sem precisar abrir os olhos. Mas os seus, quero agora, somente agora, perto do fim, lendo cada . e suando a cada , sentindo saudades como termino.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

moraes, vinícius. o incriado.

Distantes estão os caminhos que vão para o tempo - outro luar eu vi passar na altura
Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera
O vento ríspido agita sombras de araucárias em corpos nus unidos se amando
E no meu ser todas as agitações se anulam como vozes dos campos moribundos.

Oh, de que serve ao amante o amor que não germinará na terra infecunda
De que serve ao poeta desabrochar sobre o pântano e cantar prisioneiro?
Não há a fazer pois que estão brotando crianças trágicas como cactos
Da semente má que a carne enlouquecida deixou nas matas silenciosas.

Nem plácidas visões restam aos olhos - só o passado surge se a dor surge
E o passado é como o último morto que é preciso esquecer para Ter vida
Todas as meias-noites soam e o leito está deserto do corpo estendido
Nas ruas noturnas a alma passeia, desolada e só, em busca de Deus.

Eu sou como o velho barco que guarda no seu bojo o eterno ruído do mar batendo
No entanto, como está longe o mar e como é dura a terra sob mim...
Felizes são os pássaros que chegam mais cedo que eu à suprema franqueza
E que, voando, caem, pequenos e abençoados, nos parques onde a primavera é eterna.

Na memória cruel vinte anos seguem a vinte anos na única paisagem humana
Longe do homem os desertos continuam impassíveis diante da morte
Os trigais caminham para o lavrador e o suor para a terra
E dos velhos frutos caídos surgem árvores estranhamente calmas.

Ai, muito andei e em vão... rios enganosos conduziram meu corpo a todas as idades
Na terra primeira ninguém conhecia o Senhor das bem-aventuranças...
Quando meu corpo precisou repousar, eu repousei, quando minha boca ficou sedenta, eu bebi
Quando meu ser pediu a carne, eu dei-lhe a carne mas eu me senti mendigo.

Longe está o espaço onde existem os grandes vôos e onde a música vibra solta
A cidade deserta é o espaço onde o poeta sonha os grandes vôos solitários
Mas quando o desespero vem e o poeta se sente morto para a noite
As entranhas das mulheres afogam o poeta e o entregam dormindo à madrugada.

Terrível é a dor que lança o poeta prisioneiro à suprema miséria
Terrível é o sono atormentado do homem que suou sacrilegamente a carne
Mas boa é a companhia errante que traz o esquecimento de um minuto
Boa é a esquecida que dá o lábio morto ao beijo desesperado.

Onde os cantos longínquos do oceano?...
Ssobre a espessura verde eu me debruço e busco o infinito
Ao léu das ondas há cabeleiras abertas como flores -
São jovens que o terno amor surpreendeu
Nos bosques procuro a seiva úmida mas os troncos estão morrendo
No chão vejo magros corpos enlaçados de onde a poesia fugiu como o perfume da flor morta.

Muito forte sou para odiar nada senão a vida
Muito fraco sou para amar nada mais do que a vida
A gratuidade está no meu coração e a nostalgia dos dias me aniquila
Porque eu nada serei como ódio e como amor se eu nada conto e nada valho.

Eu sou o Incriado de Deus, o que não teve a sua alma e semelhança
Eu sou o que surgiu da terra e a quem não coube outra dor senão a terra
Eu sou a carne louca que freme ante a adolescência impúbere e explode sobre a imagem criada
Eu sou o demônio do bem e o destinado do mal mas eu nada sou.

De nada vale ao homem a pura compreensão de todas as coisas
Se ele tem algemas que o impedem de levantar os braços para o alto
De nada valem ao homem os bons sentimentos se ele descansa nos sentimentos maus
No teu puríssimo regaço eu nunca estarei, Senhora...

Choram as árvores na espantosa noite, curvadas sobre mim, me olhando...
Eu caminhando... sobre meu corpo as árvores passando
Quem morreu se eu estou vivo, por que choram as árvores?
Dentro de mim tudo está imóvel, mas eu estou vivo, eu seu que estou vivo porque sofro.

Se alguém não devia sofrer eu não devia, mas sofro e é tudo o mesmo
Eu tenho o desvelo e a benção, mas sofro como um desesperado e nada posso
Sofro a pureza impossível, sofro o amor pequenino dos olhos de das mãos
Sofro porque a náusea dos seios gastos está amargurando a minha boca.

Não quero a esposa que eu violaria nem o filho que ergueria a mão sobre o meu rosto
Nada quero porque eu deixo traços de lágrimas por onde passo
Quisera apenas que todos me desprezassem pela minha fraqueza
Mas, pelo amor de Deus, não me deixeis nunca sozinho!

Ás vezes por um segundo a alma acorda para um grande êxtase sereno
Num sopro da suspensão e beleza passa e beija a fronte do homem parado
E então o poeta s urge e do seu peito se ouve uma voz maravilhosa
Que palpita no ar fremente e envolve todos os gritos num só grito.

Mas depois, quando o poeta foge e o homem volta como de um sonho
E sente sobre a sua boca um riso que ele desconhece
A cólera penetra em seu coração e ele renega a poesia
Que veio trazer de volta o princípio de todo o caminho percorrido.

Todos os momentos estão passando e todos os momentos estão sendo vividos
A essência das rosas invade o peito do homem e ele se apazigua no perfume
Mas se um pinheiro uiva no vento o coração do homem cerra-se de inquietude
No entanto, ele dormirá ao lado dos pinheiros uivando e das rosas recendendo.

Eu sou o Incriado de Deus, o que não pode fugir à carne e à memória
Eu sou como o velho barco longe do mar, cheio de lamentações no vazio do bojo
No meu ser todas as agitações se anulam - nada permanece para a vida
Só eu permaneço parado dentro do tempo passando, passando, passando...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

armadilha

deixei que passassem estas mulheres por mim. aprendi a sair destas armadilhas em forma de gente, atraentes, minuciosamente projetadas pelas mãos, pelas mãos de quem? quem seria tão perverso? simples acaso, tragédia. tive consumida a minha matéria e viciado o meu pensamento, eu me dei. me deixei transpassar como por balas perdidas no peito, porque foram sempre perdidas que eu as achei. uma guerra no escuro, o meu peito aberto cobrindo tudo, sorte. hoje, sequelas que duram, senão a vida inteira, pelo menos a eternidade. mas não me ponho mais em seus caminhos, senhoras. as balas já atravessaram meu peito e agora deixo que atinjam os teus alvos, construídos dentro, projetados fora, sempre em trajetória longa de rumo distante quase inalcançável; mas não mais em mim. não sigo mais tuas jornadas maravilhosas sobre a terra, o pé no chão, o coração no mundo. hoje só desvio do alvo e corro cega pra bem longe e tão rápido que só raios possam me acompanhar, onde nem o ar exista e o instante é a lei. de tudo sobrou o medo, que não é o medo das armadilhas por que sei que delas não posso escapar; assim como qualquer outro humano no mundo. mas um medo de me deparar com mecanismos que não conheço, com nomes que eu não saiba ao menos pronunciar, com novíssimas máquinas letais, de onde não reste vida que seja. tudo que sei, sei porque morri. tive que matar algumas coisas em mim para entender minimamente as nossas trocas de tiros no escuro. de vocês sei que não morro por completo, a capacidade de regeneração humana é incrível, mesmo com mísera matéria. mas e quando não sobrar mais nada? de onde irei renascer? seguiremos sendo alvo e ameaça, sempre. eu e vocês, todos. onde estou agora é seguro, mas sei que em breve esta morada não mais me abrigará. haverá novas e mais dissimuladas armadilhas onde, mesmo cautelosa, irei me afundar. mas de alguma forma vocês ficarão, cicatrizes condecoradas, medalhas que eu conquistei. talvez conte uma história ou duas, talvez vocês se tornem isso: histórias, histórias que os céticos simplesmente irão esnobar. mas eu, apenas eu, saberei a verdade imensa e translúcida escrita em meus olhos e mais ainda, saberei que, se cair nesta armadilha novamente, é porque quis partir para o fim, irei dançar com tuas artimanhas e rir das minhas feridas. serei feliz, sentindo dor e não sobrará mais nada de mim; o amor só será possível no último instante.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

viva, muito viva

ueria dizer tanta coisa, eu sempre quero dizer muitas coisas mas sempre acho também que não vale a pena. falar sozinha não é muito a minha. mas é que ando numa de vida pra cima que nem me reconheço, logo eu que adoro me arrasar e em barra pesada, várias barras pesadas, jurando que não acreditava em mais nada mas nisso tinha razão e era esse o pulo, não acreditar em nada e duvidar de tudo. começou na terça com aquele papo no engarrafamento, sinal fechado, nós na transversal do tempo, você sabe... mas, como assim que eu ando largada por aí, que eu não gosto mais de mim e não sou mais a mesma? é o cacete! passa esse sorriso pra cá que agora ele é meu! esquece os dois dedos de raiz do meu cabelo, é só assim que fica bom, save debbie! agradeço muito pela sopinha com torradas pela noite e também por ter acordado hoje com afagos no rosto e um "não vai pro estágio, elô?". eu: "ahaheghaefgnãããããoooaaahhummmmrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr". coisinhas pequenas me alimentam, um papelzinho vale, vale pecadinho, um calorzinho nas costas, uma balinha, qualquer coisa tá valendo e fazendo acontecer. pedrinhas no sapato existem, mas me livro até o fim do ano, são umas duas ou três, quem sabe quatro, mas não passa disso e não dá cria que eu não deixo; graças a um tal doido aí que disse, aliás ele nem disse, ele já foi destruindo tudo por que ele sabe, tem que se destruir tudo pra se construir algo melhor. então, vamos quebrar as paredes, deixa chover, deixa ventar, deixa trovejar. quando não houver mais pedra sobre pedra, iremos brotar lindos da terra, espalhar por aí armadilhas, cautelosos, porque o amor, você sabe, sempre espreita sorrateiro... não vamos acordá-lo, não agora que os barcos já partiram daqui, levaram todo aquele entulho lá pras europas, aquela terra escrota.
a culpada? eu que não fui! mas se quer saber, acho que toda aquela merda deu em coisas lindas, destruição taí pra isso, pra fazer nascer denovo e denovo e denovo e até o fim do mundo, das entranhas de gente como a gente, porque só a gente suporta a loucura. culpada foi a gal, mas ela é deus, a gente não questiona.
minha relação com a bebida virou problema, mesmo. minha meta é não beber esse final de semana, sem traçantes cortando o céu acima de nós, nem balas perdidas, só meteoros nos quais viajaremos para, para, para longe, sempre para longe e nem precisamos andar muito.
já disse, amor não é tudo. dedos apontados desviem de mim! espero voltar, assim, daqui a mil anos e depois de tantas coisas que só uma madrugada de mil horas daria conta para colocar as supernovas em dia! até hoje não acredito naquela ligação no meio da madrugada, que não deu certo porque gal protege os bêbados, ela até me levou pra casa nesse dia, cantando baby pra mim dentro do ônibus. ai, essas combinações inconvenientes, um dia essa química toda me mata, ou me fortalece, vai saber.
duvido de tudo mas tô viva, muito viva e sei.

domingo, 20 de setembro de 2009

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

catavento

talvez coisas que a gente nunca devesse ter feito ou dito. um dia parado, sensação do tempo corroendo as entranhas, o dia e os pensamentos nublados e cheios de sombras, aquela tentativa desesperada de sanar a ansiedade no banheiro, escondido de todo mundo; e depois o medo. a paranóia, tudo junto vindo como nunca viera. muita gente em volta e ninguém por perto, a avacalhação da própria alma, o receio e o desejo da solidão; ainda mais depois de ter abandonado tantas coisas nos últimos tempos e por escolha própria. o dia seguia. o caminho que escolhera talvez fosse todo assim, escuro, meio frio e parado. mas já não tinha como voltar atrás; participara de um tipo de ritual inconsciente de si mesma, e agora deveria fazer do amargo o seu gosto, de sombrias as suas idéias e sentimentos, e o amor, bem, este lhe traria sensações de náuseas, convulsões e perda dos sentidos; resultado do acidente que sofrera em agosto. não conhecia mais o romance. repulsa, era a reação primeira em face dela. era bem verdade que se sentia cansada e não acreditava mais em ninguém. o dia ia. tudo estranho, pessoas sozinhas em salas com móveis que cheiravam a tempo, todas elas cinzas, tudo parado e morto. ou, ao menos dormindo, um sono pesado cheio de pesadelos; pre visões do outro lado do mundo, ou do outro lado da rua. a sincronicidade das maldições de sua nova vida acontecendo a olho nu, todos os fatos ligados para afetar-lhe cada vez mais, e tudo previsto em pesadelos que duravam toda a noite, quando dormia. se perguntava, naquela tarde, se valia a pena seguir agora. o porque de cada minimo detalhe de seu moroso cotidiano, achava tudo chato, apenas insuportável. não queria sentir o vento passar, mas ir junto. entretanto, ficara. pensara que se pudesse alcançar aquela janela do oitavo andar, poderia voar para longe, feito papel solto na rua ou quem sabe um catavento solto no ar. mas não tinha certeza, era bem verdade que se sentia casada e não acreditava mais em nada. sabia que agora era de pedra, e tinha medo.

domingo, 6 de setembro de 2009

onde foi que perdi minha embriaguez?

então, é isso. está tudo acabado para mim. onde fantasiar minha felicidade se o álcool já não me afeta mais? como forjar minha segurança amorosa se ao beber continuo triste, feia e sóbria? como fazê-los acreditar na minha maturidade emocional se ao me ver, todos sabem que em mim já não há mais coração que bata? estou perdida. não sei mais o quê nem quanto beber para me alegrar. a cerveja do fim de todos os dias, a vodka das noites de frio, o vinho para a lua cheia, a cachaça brejeira, nem os drinks de absinto nem a nossa paixão brasileira, a caipirinha, nada. me sinto desolada e mais só do que nunca estive. poderia perder meus amores - como perdi -, meus amigos e até minha vontade de viver, mas para tudo isso existiria sempre um copo de cerveja para me ajudar a engolir o choro. a vida agora deve ser levada com sobriedade e sem nenhuma graça, daquela felicidade embutida nas tão amadas garrafas. onde foi que perdi minha embriaguez? ficarei por aí como quem não vê, não ouve, não vive. estarei incógnita e invisível para os outros, não terei mais cores. sofrerei dessa separação por completo, sem anestesias nem fantasias. poderiam ter me levado tudo, menos o meu torpor, mas m'o tiraram e em troca deixaram apenas uma enorme dose de realidade. que ainda não tive coragem de beber, apenas provei e não me agradou muito o paladar. nem poderia. deus deve estar tentando me reabilitar forçosamente, depois de ver que de nada adiantaria colocar pedras de "aprendizagem" no meu caminho, nem mandar avisos. castigo, mandinga, seja o que for, por favor, me tragam devolta minha ilusão. há possibilidade de recompensa.
por agora, não sei o que fazer.


ps.: na verdade acho que lembro onde perdi minha embriaguez. mas acho que não há possibilidade de reavê-la, porque esse era o pior castigo que alguém poderia me dar, e assim o fez. arranque meu coração, meu orgulho, minha fé no amor... mas devolva minha embriaguez, por favor.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

um brinde - sem tempestades

e eu acho até que poderia pegar um copo, colocar um pouquinho de água e fazer uma pequena tempestade dentro dele. seria justificável, eu teria as razões na ponta da língua para todas as argumentações e eu seria capaz de convencer o mundo da minha injúria, sobre a qual todos consentiriam balançando a cabeça, compadecidos. mas não faz muito meu estilo, sabe. admitir a fraqueza, receber a pena dos olhares dos meus amigos mais uma vez, ah isso eu não suportaria mais, me ver mesquinha, pobre e enraivecida denovo, e porque? por causa de palavras? palavras nada valem, meu bem. vale mais quando não é preciso dizer para se fazer entender; admito: prefiro o mistério do silêncio que, se vale alguma coisa nesse mundo, acaba virando certeza. eu vi com meus olhos que o silêncio vale mais e se não saio por aí desgraçando as minhas boas lembranças e soltando pragas ao vento para que as leve até você, também sei o quanto custa guardar uma tempestade dentro de mim. entretanto, não sou ingrata. simplesmente não quero soltar, não vou entregar, os urubus que rodeiem outro corpo em busca de carniça porque esse aqui, ainda está vivo. ainda. ninguém me ouvirá dizer um "ai" de reclamação, nem mesmo você e caso perguntem, está tudo ótimo comigo.

então, neste caso, baby, eu prefiro pegar um copo, encher de cerveja e fazer uma pequena festa com ele. e para não perder a tradição de séculos de bohemia, eu faço um brinde: felicidades ao casal! eu desejo que vocês sejam muito felizes dessa vez! e de todas as próximas também! um brinde ao casal!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

sem sentir ?

"Joguei meu cigarro no chão e pisei
Sem mais nenhum aquele mesmo apanhei e fumei
Através da fumaça neguei minha raça chorando, a repetir:
Ela é o veneno que eu escolhi pra morrer sem sentir"

noel rosa

segunda-feira, 29 de junho de 2009

benditas

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas


A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma

mart'nália

domingo, 14 de junho de 2009

god's party

eu vi uma pipa no céu enquanto chovia, fazia frio e as pessoas se escondiam, o rio de janeiro virou uma sibéria nos últimos meses e dia dos namorados mudou de nome, se chama agora "dia da espera sem fim", malandros continuam malandros e os manés agora somos nós, a vida tem passado como filme, eu não participo, apenas assisto, o que é muito bom, amor virou lenda pra mim, aliás, uma lenda que ouvi há muito tempo atrás e já não tem a menor graça nem lição de moral, muito menos feliz no final, a pipa no céu parecia um arauto no meio do tempo nublado mas logo ela sumiu, se recolheu, o dia passou, todos tem passado meio assim, frio assim, chuvoso assim, lampejos de luz, raros e parfos, já não me cegam mais, mas de nada o frio faz tristeza, tem sido difícil suportar mas não há possibilidade de ficar dentro de casa com aquela lua posta no céu, a gravidade deve gerar algum tipo de atração, não sei, anjos tem me rodeado por aqui, são ótimas companhias e sempre trazem presentes consigo, mas vão embora só quando querem, às vezes é necessário passar madrugadas inteiras com eles até que se sintam bem, ontem mesmo um me apareceu e me trouxe doces que preferimos não comer, ele me contou que daqui a duas ou três semanas o mundo vai acabar, e vamos morrer logo, mas vai ser rápido e não vai doer, deus está preparando uma grande festa de recepção, e imagino que será realmente uma grande festa porque se o mundo foi feito em sete dias (tecnicamente seis dias), imagina uma festa feita em duas ou três semanas! estamos todos convidados, e diz que vai ter show de abertura do cazuza cantando coisas do tipo "eu vi a cara da morte e ela estava viva, vivaaaa" e "vida louca, vidaaaaa, vida brevee", outros também virão, mas o anjo não me disse os nomes porque era surpresa, esse deus... sabe fazer uma festa, e o melhor, vai ser tudo liberado e todos estarão lá, sem excessão, enquanto espero vou aproveitando essas coisas banais da vida, porque ascenderemos a um outro estado realmente mágico, não como lampejos que às vezes temos, não como visões e compreensões repentinas da vida, estará tudo explicado, como uma eterna epifania e o amor, bem, descobriremos que há algo melhor.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

rascunho

você é tão burra que nem se eu escrevesse seu nome aqui, você se tocaria. mas andam dizendo por aí que eu sou ainda mais; insisto sempre em dizer coisas que, todos nós sabemos, você nunca vai entender. você é linda, mas burra para a vida. quer dizer, o mundo até precisa de pessoas como você, mas eu sou de uma outra jurisdição. "sentir prazer em ser o que se é", isso faz algum sentido pra você? rs, não né? deve lhe parecer um borrão num papel branco.

[rascunho]

drama, ficção ou realidade?

sabe, eu sempre achei que um dia seria recompensada por algumas coisas que passei e passo ainda. coisas tristes pra mim. mas a vida não é esse jogo de trocas, muito menos justa em suas trocas. o estresse elevadíssimo, o cansaço, a irritação, a falta de tempo, nem me incomodam mais. estou anestesiada para a vida. vocês insistem em me bater, mas não percebem que batem em um corpo já morto. e preciso ser salva, mas não posso pedir ajuda e ninguém pode me ouvir.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

a aceitação das olheiras

eu aceitei as minhas olheiras. do fundo do que de mais verdadeiro existe em mim. e aceitá-las significa mais. elas agora tomam novo contexto. são minhas e estão lá porque devem estar. é minha rotina, é minha preocupação com o mundo, são minhas noites perdidas. não as contesto mais e passei a amá-las. sem mais corretivos ou compressas de chá de camomila.
essas noites mal dormidas. hoje especialmente a noite está fantástica, uma lua iluminando tudo e fazendo desenhos no chão, uma noite fria, um vinho seco e um cigarro com meus pensamentos ao luar. eu nunca poderei viver sem esse tipo de coisas, entendi. graças a deus, sempre tive noites fantásticas e sempre vou tê-las. procuro equilíbrio agora e vou achá-lo, tenho certeza. a vida é maravilhosa demais para estarmos anestesiados enquanto ela passa. devemos ao contrário estarmos mais atentos e sensíveis.
minhas olheiras são fruto do quanto mantive os olhos arregalados para enxergar a vida. e me sinto orgulhosa em tê-las, por isso.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

sobre o tempo no rio II

há duas semanas, mais ou menos, parou de chover aqui. quem sabe, um pouco menos que isso. o fato é que, após a chuva ter cessado, ficamos com o sol pela manhã e um frio muito forte pela noite, com sereno e aquelas fumacinhas que saem da boca; sem ter fumado, né. pela manhã, quando acordo ainda erolada no edredon e com frio, faço um esforço absurdo para me levantar - o que realmente é um problema quando se trata de alguém que desliga o despertador enquanto dorme - e quando consigo, antes de qualquer coisa, vou para o quintal pegar o sol das 8h ou 9h. me sento lá e vou acordando. quando sinto que o sol já me esquentou por demais, saio e volto para a sombra, e sinto frio novamente. entro no banho que, à esta altura deve ser o mais quente possível, o que nem sempre é conseguido contando com a fato de que a água na caixa d'água deve estar no mínimo gelada. depois do banho é melhor. na rua o sol faz transpirar. e assim passa o dia, com possibilidades de movimentações sem medo do cansaço. à noite, vem o frio, de imediato um ar gelado arrepiando os pêlos e a coluna. casaco nenhum dá jeito, só o seu edredon. então, volto à ele, agradecida pela sua fofura e por reter meu calor em mim. ao contrário do que pensei, o frio não tem me feito consumir mais chá. consumi mais pelo verão. bom, tudo bem porque é no frio quando mais tomo sorvetes. as vitrines estão um pecado, tenho evitado. todos bem vestidos; ou no mínimo, melhor portados. o tinto seco tem me caído muito bem. mas o frio também traz a falta de tudo, o recolhimento, a polidez. o frio traz rotinas e ambientes confortáveis para pessoas que esperam coisas ou outras pessoas ou seja lá o que for. cai bem. mas recomendo cuidado aos interessados: frio também traz resfriado, gripe, irritação na garganta.

across the universe

"Limitless undying love, which shines around me like a million suns,
And calls me on and on across the universe."

ando na corda bamba deste ciclo ao qual eu pertenço, desta órbita que define meu caminhar e sempre com perigo de cair, não possuo equilíbrio nenhum mas estou presa, sem poder sair. você é meu sol e minha rota ao seu redor é elíptica. perto, longe, perto, longe. quando estou a ponto de ficar surpresa com seu calor perto de novo, me lembro da última vez em que me queimei. mas ouça uma coisa, um dia rodo tanto ao seu redor e tão rápido, que serei lançada no espaço. flutuarei infinito, viajarei para longe, com a falta da gravidade vou recuperar o equilíbrio.

domingo, 17 de maio de 2009

uma história de ti

"Porque não há enlace possível, não há". Porque uma vez, visto que era impossível aquela ligação, desistiu de ser mais que enamorada. Analisou as linhas, os traços e fez a arquitetura daquelas formações, de repente, tão distintas (a distinção que para todos os efeitos era um aspecto muito apreciado). Viu muito de repente, e ficou muito surpresa de como aquele pequeno entreposto atrapalhara seus planos e como agora teria que re-programar o final de semana e inventar uma desculpa muito plausível, como dor de cabeça ou doença de tia, por exemplo. Pensava e não cansava de analisar, e então, se conformava. Mas logo em seguida, se inculcava novamente: "não existe possibilidade de toque, não existe". Conforme o passar do tempo, percebeu que precisava de uma explicação mais clara, e não era da desculpa do final de semana que estava falando. Percebeu que, se soubesse o porquê daquele infortúnio, problema estrutural mesmo, poderia enfim, abrir mão daquela moça que, no final das contas, nem era tão inebriante assim. Por mais que soubesse da impossibilidade daquela trama, estava já possuída por seus laços. Sentia medo, mas sabia que já não era dona de seu destino e que seu corpo seguiria andando conforme ordenasse aquela brisa que soprava de seu interior. E aceitou. Meditando durante mais tempo que se propusera a fazer, viu que de nada adiantaria se não comprovasse suas especulações. Foi procurar amostra que equivalesse, que correspondesse em todos os detalhes, que naquele caso acabavam por constituir mais sombra que essência; no entanto era tudo de que dispunha naquele momento. Sua busca sempre fora vã. Nunca chegou a achar alguém que ao menos lembrasse tal figura. Umas eram melhoradas demais, e outras... Outras a faziam parecer uma moça muito direita; e desistiu. Soube ali, de outra coisa importantíssima que deixara escapar novamente: não haveria igual. E como fora tola, como se deixara cegar... E não perdoaria mais deslizes. Dessa vez sabia que faria a coisa certa.
Ainda com a inquietação dentro de si, que latejava e às vezes lhe estremecia, como uma ardência febril, decidiu pôr fim àquela busca insensata. Desafiou-se a si mesmo, e disse que daquele dia em diante não faria mais esforços vãos nem se frustraria em tentativas desastradas. Partiu para o que já deveria ter sido feito desde o inicio. Foi tirar a prova real.
Foi naquela segunda (pois havia de ser segunda-feira) em que o sol voltava a iluminar a cidade ainda molhada de chuva e fazia evaporar as poças e renovar seus poros, que se sentiu pronta. Não afoita, nem ansiosa. Pronta simplesmente, serena porque sabia que era aquela a hora e que nem que quisesse poderia (depois de tanto anos) evitar aquele momento final, a hora de suas vidas. Era possuidora de uma calma assustadora, e flutuava...
Chegou-lhe sem fazer barulho, nem estardalhaço embora fosse aquele o instante pelo qual vivera a esperar. Os olhos vidrados, a boca perplexa, e ficou ali enquanto os segundos absorviam suas gotas de suor, o ar paralisado e quase sem respirar, o corpo todo se inundando de mar, e a alma despedaçando feito vidro trincado. Chegou como doente, moribundo vadio sem rumo, mas estava apesar de tudo, muito lúcida (sempre estivera, por mais que corresse atrás de algo inóspito, sempre soubera que era aquele o propósito de sua vida e botava muita fé naquilo). Como havia planejado, depois de todo o suor ter-lhe corrido pelo corpo e molhado (discretamente) suas vestes e até partes muito escondidas, lembrou do que viera fazer. Enfiou as mãos nos bolsos, e sem desviar o olhar, tirou daquela profundeza um papel bem pequeno aonde parecia estar escrito mais coisas do que ali caberia (talvez fosse ela aquele papel, muito mais coisas do que caberia) e disse numa voz arranhada:”depois de muito correr a te evitar, e padecer por não te achar a única coisa que me resta agora é...". não precisou dizer mais palavra que isso nem nada do que havia no papel porque lá só havia anotado nomes, repetidamente nomes, uns sobre os outros e nas bordas e muitos até inacabados.
era dela aquele ar de "não me toques" e por mais que desprezasse aquilo tanto quanto ensopado de quiabo, sabia que comeria daquele prato e ao final pediria mais. sabia que era aquele o olhar, não muito incisivo é verdade, nem tão enaltecedor, mas sabia que eram aqueles olhos meio desajeitados, meio embriagados, meio cabisbaixos que seriam seu porto. e doía saber disso. doía saber que eram naqueles braços que encontraria abrigo (desabrigado, fugidio, largado e sem compromisso), e que eram daqueles lábios de onde sairiam suas verdades, suas convicções, e doía. pesava-lhe a dor de santa maria. a dor da menina da esquina. a dor de todo o mundo caía-lhe sobre as costas, agora ardendo em fogo, porque, embora soubesse e sentisse toda a dor, não fugia de seu destino. era também maria. feita de sangue, de suor e glória, e sabia que ali estava sua história. e não fugiria. não agora, que bebia de sua beleza, o mais puro ardor, bebia o sabor de sua amante.
e se perderam, porquê a outra (era vadia, era mundana) não lhe negara, e aliás, não negaria a qualquer um que lhe trouxesse flores e lhe cantasse amores.
conhecia aquele solo, porque passara muito tempo a contestar aquela alegria insensata. a chamar de besta aquela menina ingrata, e agora colhia seus frutos. alguns deles sêcos, mas outros muito doces. era aquilo, e não haveria de ser mais nada senão aquilo. um fruto sêco e doce, chupava-lhe o ventre e sentia a ardência e ao mesmo tempo a raiva consumia-lhe o tino, porque não podia chupar mais que aquilo e tomava-se de um tipo de dor prazerosa, e naquele momento só isso lhe bastava.
sentiram, ambas, que tinham vencido o tempo, e zombavam dos mínimos segundos que em algum tempo tinham lhe perturbado a paciência, zombavam dos incrédulos e comemoravam com mais gozo ainda. sabiam que acabaria. ela então, se aquietou mais cedo que a outra. pois carregara um amor mais pesado que a outra. o tempo passou e viu os lençóis planarem sobre seus corpos nus, viu a luz refletir nos seus olhos e sentiu que era a hora. não esperou que lhe dissesse adeus, pois não se prestaria a tamanha humilhação, vestiu-se e arrancou as amarras dos punhos que outrora amarrou. abandonou a sua paz, o seu amor. e nunca mais voltou.
a outra ficou.
ainda debaixo dos lençóis a outra pensou que não era possível que seu amor fosse assim tão insano, e achou toda aquela ligação um belo plano de deus (embora não se prestasse muito à fé), pensou em correr e dizer-lhe de sua sede, mas viu que o amor já cegara aquela pessoa, e que se tivesse sorte, poderia guardá-la em seu peito como uma lembrança boa. sentia que a perdia, mas ao mesmo tempo sentia preguiça de vestir as roupas, sair na rua e correr atrás dela.
quando foi embora, a primeira pensou que tivera feito a coisa certa.
mas o fato é que jamais soubera do quanto seu amor fora recíproco, porque estava tão mirada nas suas mazelas, que pode apenas sentir sua própria dor. esqueceu-se do amor.

XII. ANAÍS - Dodecaedro

"atravessaria o dia meio cega para descobrir vagamente que, além das mentiras, terias deixado em mim a semente de uma história complicada, esta, que arrastei durante doze longos meses, até que todos brotem, até enfim te concluir primário, tosco, terrês, nunca capaz de compreender que além desta nítida dor cravada que por muitas vezes beirou a morte, porque te queria como se quer, vadia, humanamente, a solução de Deus no Outro, deixavas também um encontro que não aconteceu, que talvez nada esclareça, porque tudo é de vidro, porque brotou da confusão apaixonada que despertasse em mim, que te julguei esclarecendo a vida, peça final de um quebra-cabeça, peça inicial de outro, de um excesso de líquidos e desejos para sempre incompletos, mas que ficará, ainda que ninguém a entenda, esses ramos, esses castelos, como não ficaste, porque eras só mensagem de algo que ainda não sei, isso sei agora, o que não saberei, passageiro como o passo de um bailarino em seu curto vôo, porque minha fantasia ultrapassa tua dança e a miúda sede do teu corpo não passa de veículo mecânico, alheio, involuntário do divino ou demoníaco que suponha verbalizar."
caio f.

reclames

Porra, o mundo tirou o ano para conspirar contra mim? Nunca fiz nada contra ele (bem, não que eu me lembre neste exato momento, mas de qualquer forma, peço desculpas pela torneira aberta sem usar, mijar na praia, trocar as etiquetas, avançar o sinal, comer sem pagar, mentir para minha mãe, matar umas aulas, colar na prova e falar palavrão demais). Acho que nós estamos chegando ao fim do mundo mesmo, se não for sei lá, não entendo o que se passa na cabeça dessa esfera achatada nos pólos.
Poxa, será que ele faz idéia do quanto gosto da sua companhia? Do quanto ele tem sido chato pra mim? Será que ele lembra daquele mês de julho que foi um verdadeiro inferno e que até cair na escada da rodoviária, eu caí? E que parece que não vai acabar nunca esse ano? E mais, será que ele sabe que o vizinho também deixa a torneira aberta e faz xixi na praia também?!
Eu nem tenho mais vergonha de reclamar e cheguei a um estágio aonde rir de mim mesma é o melhor caminho, mas às vezes cansa porque fazem três semanas que eu to tentando ir para a Ilha e não consigo, três semanas! Eu não suporto mais as pessoas me mostrando os dentes, seus carros, suas roupas novas. Eu não quero saber de ninguém, não quero mais ouvir sobre as vidas alheias. O mundo todo parece ter ganhado na loteria, e não querem me dar nem um trocado pro pastel de queijo e pro suco de maracujá (tá certo, eu sei que o chinês aumentou, mas foram vinte centavos só!).
E antes que começassem a falar do meu recalque e inveja, ou da minha vida sexual, eu dei umas voltinhas por aí. Coloquei meu casaco e fui pra rua tentar “fazer p-arte”, fui até a Disneyland de bicicleta. Mas achei tudo muito chato e feio.
Sabe, to querendo, só de raiva, ir até Plutão. Espírito aventureiro, sabe? Que tá perdido há uns anos no fundo do meu bolso, eu sei. É que eu não tô cabendo mais nessas roupas velhas que me deram no natal de 00; e ouvi dizer que por lá, em Plutão, a gente pode andar com roupa rasgada e chinelo velho. E ainda que a gente pode falar palavrão o quanto quiser e que lá não tem nem prova pra fazer.
Ah, eu quero de volta meus amores da infância. Quero ficar de mal e depois de dois minutos ficar de bem denovo. Eu quero ver o JN e não entender o que a Fátima e o William falam. Quero esquecer que os EUA têm muito dinheiro, que na França as pessoas falam francês mas são nojentas, que na Índia as pessoas não comem vaca, que certa vez em Chernobyl ouviu-se um grande barulho e que na África, um dia, houveram grandes reis e rainhas . Eu queria esquecer que o mundo é tão grande e que já está ficando pequeno pra mim.
Será que é pedir muito que o resto do mundo esteja tão chato quanto tem estado por estes lados?
Eu vou ter um AVC de tédio, e vou infartar minha monotonia. Por favor, dêem comida para meus gatos, limpem meu quarto, catem os restos no chão e mandem para Plutão, por favor.
Ou vou ficar esperando; me disseram que com vinte e cinco anos essa frescura toda passa.

14 10 2007

à beira do mar aberto

"a implorar de mim aquele mesmo gesto que nunca fizeste, e nem sempre sei exatamente qual seria, mas que nos arrancasse brusco e definitivo dessa mentira gentil onde não sei se deliberados ou casuais afundamos pouco a pouco, bêbados como moscas sobre açúcar, melados de nossa própria cínica doçura acovardada, contaminado por nossa falsa pureza, encharcados de palavras e literatura, e depois nos jogasse completamente nus, sem nenhuma história, sem nenhuma palavra, nessa mesma beira de mar das costas da tua terra, e de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim, eu digerindo faminto o que teu corpo rejeita, bebendo teu mágico veneno porco que me ilumina e me anoitece a cada dia, e passo a passo afundo nesse charco que não sei se é o grande conhecimento de nós ou o imenso engano de ti e de mim" caio f.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

o viço da pele

tenho pensado muito na minha geração, e mais de perto, as pessoas que viveram essa parte da vida comigo. pra onde o tempo levou aquelas pessoas de anos atrás? que rumo temos dado às nossas vidas que, a esta altura, se tornam basicamente suportaveis? penso essas coisas quando vejo no espelho, os meus olhos já fundos, minha cor aparentando doença e as marcas que já despontam invasivas. não vejo mais o viço natural das pessoas de minha idade e muito menos o bom humor e o relativismo característicos de minha época. tudo é dor e derepente o melhor programa pra um final de semana é um bom tinto seco, som ambiente e conversa com outro alguém que sente a mesma coisa. onde estamos agora? vejo como estamos ficando feios, a palavra é esta, feios. talvez as drogas, as obrigações que escolhemos; as drogas no meio das obrigações. é bem verdade que nossos sorrisos agora carregam um pouco de dor, e perdemos a leveza. dor de tanto brigar com o mundo pra tentar, apenas tentar, ser um pouquinho feliz, não muito feliz porque, todos sabem, felicidade demais é loucura é insanidade. um pouquinho. e agora, por hábito, fazemos de nossas dores o nosso prazer. que alegria desesperada é essa que buscamos nos becos sujos, esfregando nossa cara na lama, nossa alma se esvaindo pelo ralo? vejo como alguns conservam ainda a jovialidade, mesmo levando uma vida sem tempo para si, mesmo correndo atrás de coisas importantes para si. coincidentemente não são estes os mais próximos a mim. alguns evoluiram para a direita, mas os meus, estes foram para a esquerda. e "não há volta para quem escolhe o lado esquerdo". lamento, lamento. éramos todos crianças ao nosso modo, descobrindo as coisas, era um jogo. não sabíamos o que encontraríamos mas escolhemos caminhos quem sabe mais convenientes para o momento. eu não sei, não sei. não quero chegar a este mérito. a minha vida tem se tornado uma sequência de coisas que não deram certo, mas e para os outros? é bem verdade que me diverti com as coisas que ia conseguindo pela metade, isso porque fui condicionada a ver o lado bom das coisas que iam dando errado. uma maneira nem tão ruim de se viver. isso pra não falar dos amores. tudo assim, vês? pela metade, mediocre, mais ou menos. se penso nisso é porque penso no que virá e me preocupo. por mim faço pequenas coisas tentando dar forma e sentido ao meu caminho; mas pelos outros, os outros feios como eu, intoxicados pelo dia a dia como eu, perdidos em becos como eu, não posso. o fato é que aceleramos nosso envelhecimento. a nicotina tem amarelado nossos dentes e desenhado linhas em nosso rosto. nossas noites mal dormidas aprofundam cada vez mais nossos olhos. e nosso corpo se entrevando, se entrevando. não serei hipócrita; gosto disto e fiz uma escolha. mas o "e se" é uma expressão de mal resolvidos, e assumo: olho para trás e pergunto "e se?". não há resposta. é claro que coisas haviam de mudar. mas em um espaço curto de tempo, envelhecemos mais do que o esperado. guardamos nossa juventude em potes, esperando para abri-los quando o mundo se esquecer de nós.

domingo, 3 de maio de 2009

a carta do biel

"Eles me disseram tanta asneira, disseram só besteira
Feito todo mundo diz.
Eles me disseram que a coleira e um prato de ração
Era tudo o que um cão sempre quis
Eles me trouxeram a ratoeira com um queijo de primeira
Que me, que me pegou pelo nariz
Me deram uma gaiola como casa, amarraram minhas asas
E disseram para eu ser feliz

Mas como eu posso ser feliz num poleiro?
Como eu posso ser feliz sem pular ?
Mas como eu posso ser feliz num viveiro,
Se ninguém pode ser feliz sem voar?

Ah, segurei o meu pranto para transformar em canto
E para meu espanto minha voz desfez os nós
Que me apertavam tanto
E já sem a corda no pescoço, sem as grades na janela
E sem o peso das algemas na mão
Eu encontrei a chave dessa cela
Devorei o meu problema e engoli a solução
Ah, se todo o mundo pudesse saber
Como é fácil viver fora dessa prisão
E descobrisse que a tristeza tem fim
E a felicidade pode ser simples como um aperto de mão
Entendeu?

É esse o vírus que eu sugiro que você contraia
Na procura pela cura da loucura,
Quem tiver cabeça dura vai morrer na praia."

psicologofobia

vou falar sobre o quê se não for dela? sendo muito sincera: ainda a amo. ela faz parte de todos os meus devaneios, apesar de que nos sonhos, começa a desaparecer,o que é muito bom; ou apareça de outra forma, vai saber. nunca precisei me dar ao trabalho de entender meus sonhos, porque todos foram sempre tão diretos. e se ela estiver lá de outra forma, não a reconhecerei por que já desisti da coisa de entendimento da cabeça; e mais, tenho pavor de psicólogos, eles destróem a minha vida. éramos sempre quem não somos em meus sonhos. mas era ela lá. era ela também me fezendo sentir aquele frio na barriga ontem. e também era ela me fazendo sorrir no meio da reunião, semana passada. hoje, ela só está fazendo tudo o que sempre fez, sendo o que sempre foi. eu é que não posso mais ceder aos meus impulsos. e é simples demais tudo isso: se não posso tê-la, então tenho que esquecê-la. simples. nesse cenário, seus defeitos tem me caído melhor. é complicado isso, porque no fundo não enxergo nada daquilo, mas tenho que expurgá-la de mim de alguma maneira. essas meninas encrustam na gente feito mancha de tinta na camisa. não, é claro que elas não tem culpa. elas só estão lá fazendo o papel delas, sendo lindas e fudendo as nossas vidas, coisa que a gente aprecia em demasiado, não é verdade?

Alguém entende isso? Alguém que não seja psicólogo, e que não queira destruir minha vida com uma teoria? Alguém vê o que tá acontecendo aqui? Eu vi, mas como se trata de mim, tenho até vergonha de dizer.
Existe uma diferença afinal.
Sim, ainda a amo. Não escondo. Mas agora, não me darei mais ao luxo de querê-la.

até que todas essas palavras sumam, até que a página fique branca, cada vez menor... cada vez menos palavras te darei, cada vez menos. e você? já foi.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

pé sujo?

eu venho aqui esta noite falar em nome de toda a massa carioca, quiçá brasileira, que fez dos bares e botecos da vida sua segunda casa. não, não bebi. salve os pés sujos, salve as mesinhas de bar, salve nossas cervejas, meu deus, salve. não leve a mal o que vou dizer, mas é que se trata de uma questão de gosto: odeio baladinha de playboy. ai, que saco, que saco. fila pra entrar, fila pra beber, fila pra mijar, fila pra pagar, fila pra sair. que merda! favor! não me chamem para este "tipo" de baladinha de gente bonita e fina. eu quero sim esticar as pernas na cadeira, quero beber minha cerveja em copo americano, dançar quando tenho vontade, quero minha gente não exatamente bonita nem feia, um pouco estranha, mas super interessante, quero tudo isso, qualquer barzinho serve. que seja a bohemia, que seja.

terça-feira, 7 de abril de 2009

sobre o tempo no rio I

e agora, agora eu me sinto num estado de calma, muita calma no ar. é como ver que uma tempestade está prestes a desabar, e muito serena, esquento a água, faço um chá, sento na varanda e acendo um cigarro. sem sofrimentos, sem expectativas esquizofrênicas parafuseando o cérebro, sem culpa; apenas um espaço preenchido de amor, e dos puros. um amor assim destilado, guardado em barril de carvalho enquanto apura o seu sabor.ouvi dizer que a paixão só traz sofrimento, os budistas dizem isso? que a fonte da dor é o desejo. e não sei se as coisas funcionam bem assim, quer dizer, foi shakespeare que disse? "mostre-me um homem que não seja escravo de suas paixões", foi ele? foda-se. eu sempre achei que a paixão é o que movimenta o homem, é ela que faz as coisas acontecerem, mas peraí cara-pálida, aonde as tuas paixões tem te levado? quilômetros e mais quilômetros depois, ainda sinto o quanto foi importante cada centímetro percorrido por causa da paixão, mas quer dizer, é fatal. o que eu tô tentando dizer tão imbecilmente aqui é que troquei a paixão pelo amor. e me sinto imensamente recompensada. acho que atingi um grau de amor que não espera respostas, que é completo e harmônico, e vive porque é um organismo perfeito e auto-sustentável.ah, sim. chove muito no rio agora. e sinto tanto sono, mas não tomei nada, juro.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

meu querido,

onde estará agora, o [des]prezado companheiro? será que destes lados do trópico o calor também o incomoda? será que, sozinho, ele também se vê perdido com tanto espaço ao redor? e ainda sente raiva? uma raiva que às vezes se enleva e vira ciúme; um ciúme já tão démodé. às vezes um não prestar de contas consigo mesmo e uma rebeldia que, sabemos, é pedido de atenção em vermelho, uma revolta como forma de dizer "me ajuda".
me sinto cega para todo o resto, vou pisando em falso em territórios (em falsos territórios) desconhecidos e me distraio com os meus problemas. mas me sinto bem, e só ele sabe de que jeito.
sei que nossas faltas foram distintas, o que não nos redime de maneira alguma, ressalto. mas estamos aqui, pagando nossos fardos, e eu não poderia dizer quem sofre mais agora. quem sente mais saudade. quem saiu mais ferido deste choque. e nem importa, porque cada um deve agora tentar recuperar toda a energia que investimos "nisso", proporcionalmente. acho que compreendo mais. também fomos os mesmos amantes doentes, os mesmos carentes desesperados, só representamos de maneira diferente: ele, com agressão. eu, com obsessão. e muito mais dessas palavrinhas de gente doente.
a verdade é que éramos iguais, eu e ele. éramos, os dois, a mesma pessoa, agora, descrentes do amor. dois coelhos mortos pela mesma pedra. e não era exatamente o que nos ligava que nos fazia iguais, porque essa linha nos transpassou em momentos distintos, de início. em outros, nos costurou na mesma trama. pelo contrário, o que mais nos aproximava era também o que nos distanciava. afinal, sabemos. dois corpos não ocupam o mesmo lugar. éramos dois campos de força, o que logicamente, nos repeliu para longe um do outro. o lugar, este ficou vazio, quem sabe agora ocupado por alguém que ia passando ali e resolveu ficar. mas não o conheço, nem tomo partido. apenas vejo como acabamos indo, mesmo por caminhos diferentes, ao fundo deste poço, que não é fim nem fundo, mas poço raso onde a gente fica por que tem que ficar. por que temos que sentir esta ressaca de amor que às vezes vira festa às cegas, encontro no escuro, pura sacanagem vazia de sentimento, mas que, no final da noite, num final de semana onde provavelmente estaríamos juntos - nós - acaba preenchendo um espaço, aquele espaço, com conversas banais, bebidas quentes e orgasmos fingidos. o que não é, de todo, ruim. não mesmo.
o que havia no centro, entre nós - órbitas -, era a luz, era o sol.
o que não sabíamos, meu caro, é que, além de tentar ocupar o mesmo espaço, também éramos intrusos. olha, eu não te conheço. nunca te conheci por inteiro, embora tivesse minhas idéias infundadas sobre quem seria você. fomos inimigos, amantes, desconhecidos e agora fazemos parte de um mesmo levante. por mais que agora não mais te importes a minha presença e que minha vida para você não passe de uma folha amassada, e que talvez isso até seja recíproco, acredite em mim: não passamos dos mesmos amantes falidos, não importa de que maneira, e compartilhamos esta grande fossa dos corações partidos, cansados e fracassados, aonde há pesar, e que apesar de tudo isso, ainda nos sentimos extasiados pelo que virá.
timidamente, devagar.

sábado, 21 de março de 2009

montauk? rs

o que eu posso dizer? rs. é claro, estou bêbada e aviso. mas. mas assim as coisas ficam mais claras. assim, ouvindo o caetano, aquele caetano e vendo essas coisas... mas. eu só posso rir disso tudo, porque aquele homem que ficou observando tudo tão de perto diria, numa hora dessas para mim: "eloisa, seria trágico se não fosse cômico". então eu prefiro rir.
ainda sabendo de todos os entremeios incovenientes, se pudesse escolher, escolheria a ti. se pudesse; mas nem pude, quer dizer, fui levada pela maré.
olha, o que eu posso dizer. que merda isso, que merda. me vejo cansada, patética e rio de mim mesma. porque você, você é a criação mais imperfeita dentro de toda a perfeição imaginada e teria eu culpa por me apaixonar por uma criatura assim?
mas agora. seguiremos, adiante, avante, em frente sempre. para onde? para longe.

mas não se pode agir assim. ela argumentou.
a outra, a outra não ouviu.

e tentou novamente, pensou, o que poderia ser mais claro do que "eu te amo". disse, mas pensou que dizia pela, quem sabe, milésima vez, mas não, era apenas a segunda. a segunda e mais avassaladora paixão que um dia imaginara ter. o amor ali, mentira, mentira. era paixão, e consumia, exterminava. olha, você. sei que não temos onde, muito menos quando, que dirá como. mas. mas terás lugar cativo em meu altar. porque você. é tudo o que foi feito para não dar certo, mas dentro de mim vejo perfeito, a tua construção, a tua complexidade, e exergo as estruturas vitais para ti. e és a forma de vida mais complexa da terra. e linda, linda, linda... e me pergunto: o que fará com tua beleza?

enfim, só posso dizer coisas sem importância, nessa hora, no estado em que me encontro. por dentro uma encruzilhada, várias linhas, muitos caminhos e uma vida, a minha jogada para onde? pra que lado? me encontre no lado B.

meet me in...

segunda-feira, 16 de março de 2009

será?

e começo a perder os sentidos novamente. mas dessa vez não é tão avassalador e não dura um dia como antes; que em geral eram os de TPM. perco os sentidos aos poucos, durantes as horas, os dias, enquanto sinto preguiça de ir aos compromissos, sentindo repulsa pelo caos desta cidade, não cabendo dentro de mim. e me pergunto o que teria desencadeado tudo isso? achei que estava bem, e realmente estava ótima, sentindo paz no coração. mas tudo se reverteu. para as constantes dúvidas não há respostas, só o infinito vazio. minha cabeça foi baqueada por alguma coisa (qual o motivo?) e agora preciso reformular minhas estruturas. mas é tão difícil quando tudo te empurra para o lado B da vida. abandonar o que se ama talvez seja um motivo, mas achei que estava fazendo a coisa certa, no calor das horas, me pareceu certo desistir e abrir caminho denovo pra o que quer que seja. agora penso que, por mais que me consumisse, o amor era o sentido de viver minha vida. e só dava passos por causa dele, e só respirava porque precisava viver por ele. mas caí na tentação dos pensamentos tortos, mas confortáveis, de que o melhor a se fazer era esquecer. ainda acho que sim, mas será que perco os sentidos denovo por que joguei fora talvez a única razão pela qual caminhava? não sei. mas preciso de motivos (não cante tim maia agora, por favor), outros, que me façam andar pra frente, avante. mas só me cansa olhar em volta. as coisas, todas elas, perderam a graça. meus olhos estão nublados para o mundo, eu sei que está em mim. agora quero pilares, quero chão, quero ter porquês.

sei que um dia terei as respostas, só não queria ter que morrer para sabê-las. você sabe, essas verdades que escondem da gente, pelos cantos, as outras pessoas. o segredo do capitalismo, os outros planetas, a surgimento da vida, a astrologia, a verdade sobre o amor, extraterrestres, espíritos, a metafísica e o livre-arbítrio, religião, drogas; todas essas verdades.

eu parei em um ponto onde se escolhem caminhos. mas eu queria apenas ficar aqui nesta encruzilhada, esquentar uma água, fazer um chá, fumar alguma coisa, ver a tempestade chegar e não fugir da chuva, ver o céu ficando claro denovo. mas não posso fazer isso, é claro. existe aquela coisa toda do futuro. foi isso. o amor não utiliza esse tempo verbal e esses advérbios. eu quero saber é do agora, da efemeridade. mas estamos perdidos no passado, de qualquer maneira. dentro de mim insiste aquela esperança vergonhosa e ridícula de um talvez, quem sabe, e se. mas sabemos, estamos perdidos. e mais: não tenho dinheiro. numa situação normal, iria ao shopping gastar uma grana com besteiras, e me sentiria melhor. mas a crise.
será que há chances de voltar ao início? um restart? um load game? quantas vidas? se eu praticasse otimismo, diria que sempre há uma chance de se recomeçar. mas estou velha e desacredito nessas coisas. cada dia mais me convenço que nasci sozinha pra viver como um bicho. e que não admito invasões no meu território. e que ao invés de amores, procuro brigas. e sempre perco, sempre saio de cabeça baixa com o rabo entre as pernas. e a valentia de sair pelo mundo em busca do amor, te serviu pra quê? pra voltar pra casa sozinha e cansada. e aquela coragem? aquela vontade de viver tudo o que a vida tinha pra te dar? foi equívoco, impensado; a vida não é justa. e o amor? não foi o bastante.

quinta-feira, 12 de março de 2009

esclarecimentos sobre aquilo

*ooooook, vamos às verdades pelo menos uma vez. a mulher morreu de fato pela incapacidade da pseudo-autora de continuar a historinha, não pela ingestão de barbitúricos, porque ninguém morre disso, ora! a pseudo-autora pensa agora que começará a escrever sobre ela própria (só agora, eloisa?).

4

Dormiu, mas não acordou. No outro dia - já era final da tarde - o homem, quem diria, foi até o apartamento dela, pediria pra voltar. Não precisou de tanto tempo para compreender que amava aquela mulher, por mais que às vezes não entedesse seus atos. Viu a cartela de metohexital vazia na mesa da cozinha, a garrafa de vinho vazia ao lado da cama, finalmente o corpo da mulher vazio enrolado nas cobertas.

O homem, se arrependeu. Quis morrer também. Quis ressuscitá-la com rituais desconhecidos. Fez o que havia de ser feito, depois. Viveu e morreu velho. E velho, ainda lembrava-se dela.

Fim.

3

Quinze minutos, talvez vinte, até que se levantasse na madrugada para continuar a pensar no que era o amor, e o alimentar seu ódio pelo homem, e perder a linha das órbitas planetárias, e blá, blá, blá. Se distraiu vendo a TV, ainda bebeu um pouco do vinho seco - uma safra barata de merlot argentino, uma bosta, os pais dela diriam, mas lhe caía bem - deixado na geladeira desde a última noitada dos dois dentro daquela casa. O que pode ser pior do que eu, sozinha, bebendo vinho neste apartamento? Não se entregava. Mas estava lá, mesmo com as nove miligramas correndo pelas veias, o sono não vinha, a cabeça sendo parafusada de idéias sem sentido. Não devia ser ele a fazer isso, e sim eu. Quando nossos amigos souberem, vão pensar logicamente que fui eu quem terminei. Ele sempre foi um idiota. O homem, de fato, não era muito interessante e todo mundo sabia que aquele jeito puritano dele nunca combinaria com as porralouquices dela. Os amigos olhavam torto, cochichavam pelos cantos com ela: "o que é isso? que cara é esse?". Mas se deram bem, quer dizer, ela achava os trejeitos dele engraçados e ele, fascinado com as pirações dela. Ele ainda não sabia que se tratavam de máscaras. E ela não sabia que aqueles trejeitos eram chatice mesmo. Se sentia confortável pois havia cigarros para fumar até perder o ar. E precisava, quem sabe, disso mesmo. Tirar aquelas máscaras, se ver humana. Não, ainda não. Gastou o resto da noite amontoando as coisas dele num canto do apartamento, perto da porta, obviamente. E o vinho, àquela hora já lhe caía perfeitamente junto com aquelas nove miligramas. O dia amanhecendo, e ela se escondendo, jogando lençóis pelas janelas, não aceitando que era outro dia. Os pássaros! Porque cantam de manhã? Nada lhe irritava mais do que pássaros cantando pela manhã, lhe dizendo que não passava de uma inútil, infeliz, um bicho noturno; e que eles, os pássaros, são felizes pela manhã. Não, o quarto uma penumbra, o silêncio do cômodo fechado, a cabeça inebriada, a cama já desfeita. Dormiu.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

não mais

"ela acordou derepente com o silêncio. piscou os olhos até recobrar a visão para que conseguisse perceber onde estava. o cenário era claro: apartamento vazio depois da festa. os copos no chão, as garrafas, ela e os maços vazios; jogados todos iguais ao chão. quis procurar um cigarro pra recobrar a consciência, não havia. se levantou, mas sentiu o corpo ainda deitado. não havia mais nada a se fazer ali. se sentia incapaz de dar um passo, mas precisava sair. era feio, estava sozinha e não valia a pena ser feliz naquela bagunça. por mais fraca que se sentisse, pode ao menos ter a honra do último ato da festa: apagou as luzes, trancou a porta, respirou. nunca mais se apaixonaria outra vez."

quando a eloisa for embora,

ela começará a andar pelas ruas do centro do rio com aquele jeito de quem espera, mais uma vez. um jeito de quem espera mas não pode ficar parada de maneira alguma. porque o tempo, o tempo, o tempo. já não será a mesma e talvez nem a reconheçam mais, talvez perca alguns amigos, talvez aqueles que não compreenderem que a urgência a deixará cega. de outros poderá, se tiver sorte, receber apenas um olhar do tipo "você vai se foder, mas estou contigo". porque sempre tivera esse impulso de se mover - embora parecesse sempre tão preguiçosa. então, preferia ter que deixar as pessoas e ir embora a ser aquela que fica. e embora a maioria de seus amigos não acreditassem (eles têm os seus motivos) estaria satisfeitíssima ao ir embora. não pela ida, pois ficaria ali encostada naquele mundinho maravilhoso até cansar e demoraria, quem sabe até quando? ficaria ali como aqueles gatos que vão entrando em nossa casa, primeiro no portão, depois na varanda e logo, logo estaria em cima da cama. mas satisfeita por tudo o que viu tão atenciosamente durante aqueles dias. por todos os chás matinais. por todos os descuidos pescados. por ter assistido àquelas transformações todas ali bem na sua frente, parecia ler um livro e parecia repetir sempre o mesmo capítulo. e se aprofundando mais naquela alma, cada vez mais, porque procurava entendê-la embora soubesse ser impossível. e compreendia que o pulo do gato era esse mesmo: nunca entender, mas sempre apreciar aquela alma belíssima. e de fato se tratava de uma alma muito sofisticada. rebuscada em suas contradições, sempre atrás de alguma coisa, mas essa coisa... o que seria? nem ela sabia. mas a busca era certa. queria, queria o quê? a outra gostaria de lhe dar essa coisa, o que quer que fosse. porque a amava tanto, e era um amor muito constante. como aquele príncipe amava aquela flor. ficaria ali a escutando falar por quanto tempo? muito tempo, porque enquanto dizia coisas simplórias, essas coisas de quem não tem muito compromisso com a fala, estava vendo sempre mais fundo, lendo as entrelinhas, olhando como os olhos já tinham um brilho diferente, e as mãos já regiam a vida com mais gosto... e para ela, que vai embora, o que valia era isso mesmo: ser um pouquinho testemunha - quem sabe até estar junto às vezes - do que acontecia com

aquele ser completamente peculiar e único.

segunda-feira

quando surges já estou a sua espera - mas finjo surpresa - porque tu vens cantarolando seus sorrisos pelo caminho e penso que os cultiva muito anteriormente para que, quando me encontre, estejam radiantes feito flores pela manhã (e em verdade, luzem dentro da gente). e dizes "oooooi" assim preguiçosa, mas não cansada, enquanto cada tom que te sai da boca vai, um por um, laçando minha estima que se engrandece à medida em que estende os braços como que a oferecer algo muito sagrado, uma bênção, um abraço. e vens vagarosa para mim enquanto eu, descompassada, simulo calma. então me beija os dois lados do rosto, me enrola nos braços e depois me solta. e só depois disso sinto que posso começar a segunda-feira. ao lado daquele ser imortal, não entendendo as coisas que ela diz mas totalmente envolvida naquela conversa de palavras mudas. envolta naquela atmosfera tomada pelo seu perfume único, que sinto antes mesmo que adentre nossa sala. e varremos o dia com gargalhadas imensas até que vais embora, carregando todo o amor com que cobriu cada canto daquele lugar velho e eu fico ali, pensando que tenho muita sorte nessa vida.

tudo bem?

"talvez para dizer o que eu quero dizer seja preciso ter um sorriso imenso no rosto. pelo menos é assim que vejo. um sorriso de satisfação plena e que logo se espalharia para quem estivesse por perto. os olhos estariam baixos, querendo esconder possíveis dúvidas, possíveis tentações, com medo de alcançar os demônios de mim mesma. [mas agora preciso ouvir as poucas almas de luz que ainda me cercam] minhas mãos estariam entrelaçadas de início, forjando nervosismo, mas assim que as palavras fossem surgindo na sua frente, as mãos se acalmariam, sem perceber estariam nas suas. e não demoraria muito tempo. olha, eu preciso mesmo te dizer que o seu destino será lindo. seu caminho iluminado de prismas. os dias serão só luz e cor. e talvez eu esteja muito longe pra ver tudo isso, mas só de saber me contentarei e sentirei paz; onde quer que eu esteja. daí já vem meu sorriso, desse saber. mas sim, importante dizer ainda... existe uma coisa ainda pendente, que eu não sei direito o que é.

talvez seja um não que falte. ou ainda faltem algumas palavras, algumas transações, quem sabe até lágrimas. mas não arriscarei palpites, nem o faça você. porque acontecerá, inevitável. e não há pressa. o importante aqui, agora é que você saiba que os caminhos são mesmo tortos e que se não fosse assim também não nos cruzaríamos.

olha, a gente precisa ir embora da gente depressa. eu, pelo menos, sinto que precisamos sair dessa coisa. sei que pensa o mesmo, e que talvez até já esteja fora. eu sei que está. agora, como uma criança, vou ganhando meus primeiros passos. me apoiando no que possa ser míseramente maior que eu, para não cair. ainda caio e às vezes até dentro da coisa, o que me exige mais esforço ainda para sair novamente. volto sempre tentando. mas agora, acho que consigo. quer dizer, a coisa tem sua vida. uma hora me empurra de vez pra fora dela.agora você deve me perguntar se está tudo bem. está tudo bem."


L. Pubscky.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

2

"Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor." O trecho da música que lhe batia insistentemente na cabeça, e lhe irritava porque não poderia haver nada mais ordinário que aquela música naquele momento. Logo ela, que nem estava tão triste assim, e morava na capital. Apenas confusa ou, na verdade, muito perdida e sem saber pra onde ir agora. Parada na calçada enquanto guardava o cartão na carteira e esta na bolsa, pensava que sim, que estava bem. Amor tranquilo seria uma sorte imensa mesmo, não é? Quis tomar o caminho que sempre tomava e que lhe obrigava a passar na frente da casa do homem, mas se conteve. Por um momento quis olhar em sua cara e dizer que não queria mais nada mesmo, e que estava ótima, que voltaria a trabalhar logo e que não mais precisaria de relacionamentos destrutivos como o que eles tiveram. Mas ainda era tão cedo, preferiu respeitar o tempo. E também não havia nenhum emprego a caminho. Eu vou pra minha casa. Achava que ficar sozinha era o melhor, mas tinha certeza mesmo que queria era um colo. Mas aonde estaria? Lembrou que os dois se juntaram meio que por sobrevivência, por conveniência; ali, os dois, fracos e suscetíveis. Tirando o que precisavam um do outro; o bom dia, as ligações sem causa, o sexo, o corpo do outro que era um lar, a companhia e as brigas, as brigas que eram tão importantes. Como a gente brigava! E por tanta besteira... Mas dessa vez, a voz dele estava tão serena e seus olhos muito plácidos. Era de verdade, não era mais uma briga; entendeu. Com quem reclamaria da novela, agora? Quem seria capaz de ir buscá-la para almoçar às 17h da tarde? Quem iria suportar seu humor pela manhã? Quem seria capaz de permanecer em silêncio enquanto lia? Começou a sentir medo de ficar muito sozinha. Cigarro, nunca é demais; ainda mais agora. Comprou três maços na padaria que ficava à esquina da sua casa. Não pegou o troco. Em casa, trancou a porta em si e foi indo direto pro banho, largando as roupas no caminho (quem mais saberia viver naquela desordem?) mas lembrou de colocar o cd da ---- para tocar, bem alto, e os vizinhos? Ah, os vizinhos! Pago minhas contas ainda. Gritava embaixo da água e se contorcia nas paredes, derrubou o shampoo no corpo todo, com raiva. E fez muita espuma, espumava de ódio. Não sabia se de si, ou se do homem. Tinha nojo daquela situação toda, e tentava limpar-se um pouco. Por que não estou bem? Porque tenho que sentir essa agonia? Eu não quero, eu não quero, eu não quero, eu não quero; os olhos bem fechados. O amor teria se tornado angústia? Não havia chorado ainda. Tinha medo de se entregar, não queria entrar naquela esfera que estava lhe rodeando sorrateira, aquele ar embaçado, turvo de tristeza. Não se vestiu. Ainda de toalha desligou o som alto. Pensou em arrumar a casa, mas não. Já se sentia cansada, o sono batendo dentro dos olhos secos. Mas ainda pensava: o amor, teria se tornado angústia? O que faria com o amor na manhã seguinte? Por enquanto, estava jogado no cesto de roupas sujas. Mas transbordaria. Dormiu com uma névoa espessa dentro do seu quarto, a janela aberta. A luz logo entraria.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

1

- Putaria! - Ela disse mais alto do que pudera controlar. Depois olhou pro lado pra ver se alguém no restaurante havia escutado, mas voltou denovo o rosto pra baixo achando que nada mais importava e que se alguém mais que o garçon havia ouvido, era porque merecia. Como assim, esquecer tudo agora? Que papo mais nonsense é esse? Alguém havia perdido as rédeas dessa relação. Mas não, ela demorou pra entender que nunca tivera havido rédeas. Sempre correu por si só. Pensou ainda em pegar o telefone, ligar, tentar ao menos entender o porquê daquilo tudo. Mas não, não se pode agir assim, repetia pra si mesma. Não posso ser assim, não pode ser assim. Como poderia ela, uma mulher de meia idade já - porque esperava morrer aos quarenta do cigarro - agir daquela maneira? Seus vinte e tantos anos não haviam significado nada naquela hora, o relacionamento com aquele homem sempre a reduzira a uma criança, uma menina, e agora que aquele homem estava indo embora pensava que as coisas não podiam ser daquela maneira. Seu humor não poderia estar tão suscetível ao bel-prazer dos outros, e pior, daquele homem que sempre tivera problemas psicológicos gravíssimos. E era de câncer! De certo que as constantes mudanças de humor ocasionadas pela presença ou não do homem já a tinham prejudicado um pouco o juízo. Já lhe haviam comprometido os pulmões, sem dúvida. E o coração; bom, bastava esperar. Agora já mais calma e disposta a pensar, olhou o refrigerante na mesa e mexeu no canudo para tentar resolver o que faria. Mas tudo parecia tão complicado, as mensagens, hieróglifos do fim do mundo numa língua que apenas uma pessoa falou há mais de sete mil anos atrás. Impossível transpor aquela barreira de tramas emaranhadas que se colocava cada vez mais em volta de si mesma; e pensava se não era ela mesma a culpada, se ela própria não seria capaz de desfazer os nós e fazer tudo voltar ao normal novamente. Normal, assim bem normal. Não demorou muito e começou a desconfiar da existência de uma terceira personagem nessa história. Não, esquece isso, é besteira. Passava a mão nos cabelos pra dar um tempo nos pensamentos, começava a perder a clareza. Bebeu o refrigerante para recobrá-la. Então, é isso. Acabou, está acabado! Não se tem mais muito o que se fazer... Com o amor. O que faria agora com o amor? Pensou. Pagou a conta que o homem havia deixado - não, ela não se importava - um café, uma coca, pão-de-queijo e uma torta de nozes. Foi andando pra casa naquele dia. O que faria com o amor? O que eu faço com o amor, agora?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

férias, amor

sim. eu só estou falando isso porque provavelmente estou bêbada às 21;39. eu não confio mesmo nesse relógio. porque pra você agora a hora deve ser outra, e para aquela outra ainda deve ser outra e então vamos todos esquecer esse negócio de horas, por favor? o tempo, o tempo. sempre o tempo. olha, eu te amo. e é um amor assim doentio, que precisa sempre de remédios, e me revolvo toda por sua causa, e não me ofereça uma pílula agora, que eu aceito, eu juro que aceito e só preciso saber nome da dita-cuja pra me lembrar depois das drogas que tomo. e é um amor assim que me faz ser outra, me faz pensar em nomes de bebês, em nomes de ruas e nos nomes dos chás, sim. nos nomes dos chás que tomaremos todas as manhãs enquantas falamos, falamos. falamos do quê? vamos falar mau do mundo, vamos? vamos falar mau dos amores bem-sucedidos e das famílias felizes? vamos falar mau das polyannas, e das mulheres lindas dos comerciais de margarina, vamos? vamos falar que a nossa vida não presta, que está tudo uma merda e que a única coisa que a gente merece é o pior, vamos? ou não; quer dizer, vamos ficar em silêncio, simplesmente. sim, eu te amo. mas desconfio que amo mais ainda a mim, que amo mais ainda essa danação toda, que gosto mesmo é de sofrer, que graça só encontro se estiver sentindo sua falta, e que gosto muito é de um drama. mas deus queira que não. ele mesmo sabe o quanto queria agora estar perto de você, ouvindo as notas mais alitíssimas da sua voz, sentindo aquele perfume com notas de pimenta e mais o quê? que não fica igual em mais ninguém. que só fica bom quando se mistura com o cheiro do seu cabelo, que é perfeito quando a gente enfia a cara no meio dos fios, que olhando de perto ficam dourados e quando a gente consegue abrir os olhos, porque é muito difícil não se entregar àquele cheiro de colo quente, de casa da gente, de cama macia numa noite de inverno (do rio). e agora, sou refém do agora. desculpa, mas já não posso me manter conectada ao que passou, só posso me ligar ao que virá. e penso sempre em felicidade. que, com o tempo, me desmancharia em mim mesma nos teus braços e que, talvez, você gostaria de ver essa cena. eu te amo, mas dizer isso é tão simplório. você sabe, as palavras nunca conseguem expressar tudo o que se sente. a linguística é tão pequena. eu quero é a telepatia, a meditação, o encontro das almas nos sonhos. mas não sei o que você quer. felicidade está bom pra você? eu não sei, eu mesma não me contentaria só com isso. o que eu quero mesmo é um sem-tempo infinito com você, quero não ter hora pra ir embora, quero que não faça planos pra quando eu for embora, quero fazer tudo junto contigo, e quero que seja difícil, cada vez mais, porque assim continuo cada vez mais ligada a você, cada vez mais enrolada nessa trama. mas não sei o que isso tudo significa pra você. e não poderei saber, entende. a falta que você me faz é tão grande. embora ache que isso não vá dar em nada, já não posso viver sem você. e não faço idéia do que acontecerá conosco. e não posso mais me preocupar porque já me sinto cansada, quer dizer, o ar já não chega aos pulmões decentemente e estou sempre respirando mais fundo pra tenatar completar uma parte que falta dentro de mim, uma parte que talvez não deva ser preenchida com ar, mas com armor.
olha, eu te amo. faça o que quiser comigo. me aponte um caminho. me diga meu destino e pise demais em cima de mim. vai, vai me fazer feliz. vai me fazer feliz.
eu te amo, amo tanto. amo tudo em você. eu te amo, mas isso não é tudo. isso é pouco. eu mais que te amo, quero viver com você. eu não sei mais o que quero dizer, entenda, minha criatividade amorosa já se esvaiu com contra-tempos, e agora, com você, só me restam estas palavras tortas, mal ditas e feias, mas super, super sinceras.
amor, amor, amor... me dê férias, por favor! remuneradas se possível, por favor!