sábado, 14 de fevereiro de 2009

quando a eloisa for embora,

ela começará a andar pelas ruas do centro do rio com aquele jeito de quem espera, mais uma vez. um jeito de quem espera mas não pode ficar parada de maneira alguma. porque o tempo, o tempo, o tempo. já não será a mesma e talvez nem a reconheçam mais, talvez perca alguns amigos, talvez aqueles que não compreenderem que a urgência a deixará cega. de outros poderá, se tiver sorte, receber apenas um olhar do tipo "você vai se foder, mas estou contigo". porque sempre tivera esse impulso de se mover - embora parecesse sempre tão preguiçosa. então, preferia ter que deixar as pessoas e ir embora a ser aquela que fica. e embora a maioria de seus amigos não acreditassem (eles têm os seus motivos) estaria satisfeitíssima ao ir embora. não pela ida, pois ficaria ali encostada naquele mundinho maravilhoso até cansar e demoraria, quem sabe até quando? ficaria ali como aqueles gatos que vão entrando em nossa casa, primeiro no portão, depois na varanda e logo, logo estaria em cima da cama. mas satisfeita por tudo o que viu tão atenciosamente durante aqueles dias. por todos os chás matinais. por todos os descuidos pescados. por ter assistido àquelas transformações todas ali bem na sua frente, parecia ler um livro e parecia repetir sempre o mesmo capítulo. e se aprofundando mais naquela alma, cada vez mais, porque procurava entendê-la embora soubesse ser impossível. e compreendia que o pulo do gato era esse mesmo: nunca entender, mas sempre apreciar aquela alma belíssima. e de fato se tratava de uma alma muito sofisticada. rebuscada em suas contradições, sempre atrás de alguma coisa, mas essa coisa... o que seria? nem ela sabia. mas a busca era certa. queria, queria o quê? a outra gostaria de lhe dar essa coisa, o que quer que fosse. porque a amava tanto, e era um amor muito constante. como aquele príncipe amava aquela flor. ficaria ali a escutando falar por quanto tempo? muito tempo, porque enquanto dizia coisas simplórias, essas coisas de quem não tem muito compromisso com a fala, estava vendo sempre mais fundo, lendo as entrelinhas, olhando como os olhos já tinham um brilho diferente, e as mãos já regiam a vida com mais gosto... e para ela, que vai embora, o que valia era isso mesmo: ser um pouquinho testemunha - quem sabe até estar junto às vezes - do que acontecia com

aquele ser completamente peculiar e único.

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