sábado, 11 de dezembro de 2010

o dia

o que dizer deste tempo ? muito além do que se verbaliza, percebo que não possuo mais fugas planejadas. e que também não há mais as estruturas que antes havia, as pessoas já não se encontram mais e se me perguntam o porquê, digo apenas "tá namorando", "tá trabalhando", "casou" e lembro calada dentro de mim da justificativa que me oferecestes "que isso é preciso". não entendo mas não me prendo, não agora, uma inconveniência seria. não entendo mas já não depende de mim, seguirá sem mim até onde fores mais longe ainda irá. tudo seguirá e eu não posso ficar, seria arrastada, no mínimo, por tudo isso. por isso vou indo, ainda no meu ritmo, um pouco mais íntimo por causa da solidão, e mais temperado de horas, de minutos, segundos seguindo... o que fazer com a vida ? experimentar morrer, por alguns segundos, aqueles perdidos que tanto perguntamos, com sede, saber com o que gastar... pra morrer, os minutos são infindos e não são bons de se sentir passar. o que fazer da vida uma música, pois na hora exata de se morrer não toca música nenhuma, música é pra viver. e se respirar. procuro não pensar mais em passados extraviados pelo dia, esses restos não se sabe onde enfia. só penso no dia, unicamente no dia, de fazer as coisinhas de casa no dia e depois encontrar tempo pra pensar no dia e ver a cor do céu no dia e daí perceber como será o dia, quando acordo mentalizo o nada e se tiver sorte minha irmã dará bom dia, e se assim for, aí... é só seguir o dia, a manhã, a luz do céu cegando os olhos que procuram o azul da matina... e respirar, forte de vida. saber onde achar vida.
o que dizer depois de tanto tempo ? que muita coisa ocorreu, que minha esperança morreu ? não. direi que minha alegria é mais humilde e a perda humana, a séria falta das pessoas que eram pilares magistrais, deve ser vista como é: aprender a ser por si só. e procurar aonde seja aquela velha maneira de ser, ter fé na vida e entender nada, absolutamente nada porque fé é isso. não entender nada e ir.
e não sei pra onde vou, o que será depois de amanhã, não sei. o sol me cega e daí corro pelas horas, o dia azul, dia de verão, dezembro matando em cima e você correndo de dezembro, fingindo que é assim ainda um setembro. vamos seguindo malandramente pelo Rio. esse Rio de meu Deus do céu, o que será. planejo fugir pra sentir saudades e voltar a ti, jurando amor eterno, assim de um jeito bobo pra ti, Rio. volto sorrindo! me espera...
não importa o quanto se altere, o quanto de pessoas me reneguem e o quanto horas vendo a loucura se apossar irão durar, não importará. fé na vida virá, na estrada caminhar, andar pra não parar no mesmo lugar, ver ficar, ver partir e não parar pra pensar, apenas pensar no dia, somente no dia azul, no azul da manhã do dia que chegará.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

des-espero espero

por ser bicho, irracional, arredio

sem motivos prevejo meu exílio



por não saber lidar com paredes

e deixar sempre as portas abertas

planejo um fuga discreta humilde

como quem pula pela janela



assim sem acordar a família, sem

ao menos dar um beijo na sobrinha

indo embora assim no vento

embora como que despercebida



apenas o gato negro a me fitar ciente

porque de fugas ele entende

e na noite a passar uma febre ardente

por estar tudo agora tão diferente

diferente sem você
diferente sem porquê
diferente só por ser
por ser vida à mercê

não te levo
mas espero
que saia
desse desespero

te busco
prometo

voltar e te despertar num beijo
mas só quando você acordar
mas só quando você acordar

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

retrato do desconhecido

Ele tinha uns ombros estreitos, e a sua voz era tímida,
Voz de um homem perdido no mundo,
Voz de quem foi abandonado pelas esperanças,
Voz que não manda nunca,
Voz que não pergunta,
Voz que não chama,
Voz de obediência e de resposta,
Voz de queixa, nascida das amarguras íntimas,
Dos sonhos desfeitos e das pobrezas escondidas.

Há vozes que aclaram o ser,
Macias ou ásperas, vozes de paixão e de domínio,
Vozes de sonho, de maldição e de doçura.
Os ombros eram estreitos,
Ombros humildes que não conhecem as horas de fogo do
amor inconfundível,

Ombros de quem não sabe caminhar,
Ombros de quem não desdenha nem luta,
Ombros de pobre, de quem se esconde,
Ombros tristes como os cabelos de uma criança morta,
Ombros sem sol, sem força, ombros tímidos,
De quem teme a estrada e o destino
De quem não triunfará na luta inútil do mundo:
Ombros nascidos para o descanso das tábuas de um caixão,
Ombros de quem é sempre um Desconhecido,
De quem não tem casa, nem Natal, nem festas;
Ombros de reza de condenado,
E de quem ama, na tristeza, a sombra das madrugadas;
Ombros cuja contemplação provoca as últimas lágrimas.

Os seus pés e as suas mãos acompanhavam os ombros
num mesmo ritmo.
Mãos sem luz, mãos que levam à boca o alimento
sem substância,
Mãos acostumadas aos trabalhos indolentes,
Mãos sem alegria e sem o martírio do trabalho.
Mãos que nunca afagaram uma criança,
Mãos que nunca semearam,
Mãos que não colheram uma flor.
Os pés, iguais às mãos
— Pés sem energia e sem direção,
Pés de indeciso, pés que procuram as sombras e o esquecimento,
Pés que não brincaram, pés que não correram.

No entanto os olhos eram olhos diferentes.
Não direi, não terei a delicadeza precisa na expressão
para traduzir o seu olhar.
Não saberei dizer da doçura e da infância daqueles olhos,
Em que havia hinos matinais e uma inocência, uma tranqüilidade,
um repouso de mãos maternas.

Não poderei descrever aquele olhar,
Em que a Poesia estava dormindo,
Em que a inocência se confundia com a santidade.
Não poderei dizer a música daquele olhar que me surpreendeu um dia,

Que se abriram diante de mim como um abrigo,
E que me trouxe de repente os dias mortos,
Em que me descobri como outrora,
Livre e limpo, como no princípio do mundo,
Envolvido na suavidade dos primeiros balanços,
Sentindo o perfume e o canto das horas primeiras!
Não direi do seu olhar!

Não direi do seu olhar!
Não direi da sua expressão de repouso!
Ainda não sei se era dele esse olhar,
Ou se nasceu de mim mesmo, num rápido instante de paz
e de libertação!


Augusto Frederico Schimdt

(1906-1965)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Poema da Desintoxicação


Em densas noites
com medo de tudo:
de um anjo que é cego
de um anjo que é mudo.
Raízes de árvores
enlaçam-me os sonhos
no ar sem aves
vagando tristonhos.
Eu penso o poema
da face sonhada,
metade de flor
metade apagada.
O poema inquieta
o papel e a sala.
Ante a face sonhada
o vazio se cala.
Ó face sonhada
de um silêncio de lua,
na noite da lâmpada
pressinto a tua.
Ó nascidas manhãs
que uma fada vai rindo,
sou o vulto longínquo
de um homem dormindo.

João Cabral de Melo Neto

terça-feira, 27 de julho de 2010

entardecer-te

a outra ficou ali meio sem ter o que fazer, onde colocar as mãos, onde ir, justamente o tempo de se pensar em um resgate, pensar estratégias, meios e maneiras. a mente estática na tentativa de trazê-la de volta e depois a apatia do que não havia mais jeito, nada para ser feito. era tarde e todo segundo escorria, o vento provocando as árvores fortes e bem estruturadas do campo, tentando mudar todos aqueles rumos insensatos que se seguiam pelas estradas do país. tudo entardecia e parecia arranhar. foi vagar pelo lugar onde antes podia encontrá-la a qualquer momento e embora a mente ainda colocasse os olhos a procura daquele rosto, este já não estava mais lá, apenas os incontáveis desencontros que os olhos da outra acharam naquele espaço já vazio e triste, só o cheiro de bebida velha e fim de festa. quis sair dali rápido, ir beber do veneno de sua rotina como se fosse importante, fingir que nada havia acontecido e que nunca se enamorara, fugir pro início de tudo e começar outra vez. teria perguntado seu nome naquela tarde se por algum acaso soubesse da falta? por um segundo cogitou e acreditou em máquinas do tempo. sim, perguntaria. porque havia de ser e não tinha jeito, mas agora doía. também o corpo não sabia mais nem como respirar, do que a falta constante de ar do lugar a lembrava sempre. mesmo assim respirava pouco, fraco e baixo, como que mantendo apenas uma subvida, era só atividade cerebral constante tentando resolver enigmas do tempo e do espaço. depois de tantos encontros que, por fato irremediável da vida, são seguidos de desencontros, e destes tendo sobrevivido, teve medo e sentiu vontade de sair correndo pela estrada, dizer-lhe da insanidade que era voltar pra casa, que o mundo já ia acabar e que precisava ficar, sem motivo, sem porque, só ficar ao seu lado em silêncio, como num dia banal, mas não. haviam todas aquelas coisas que cada pessoa precisa fazer, a casa, algo parecido com uma família e também aquilo que chamam trabalho. e haviam pessoas! várias delas, sem as quais não se vive. porque, diferente da outra, ela sabia perfeitamente o que devia fazer agora. o que não importava mais, os motivos. ouviu a sua voz dulcíssima durante todo o dia, saindo da boca de outros, dizendo coisas que não lhe cabiam, a outra ficou ainda mais perturbada. o que mais sua mente seria capaz de produzir por conta da falta? prefiriu acreditar no que existia e também voltou pra casa.

terça-feira, 13 de julho de 2010

sobre ir

assim que a loucura morrer, me vou
assim que meu tempo sincronizar em mim e
ritmar o de dentro e o de fora, me vou
não vou longe, porém irei
levarei meus livros em uma estante
que carregarei nas costas
nos bolsos, mil coisas
são sementes, trocos dados e usados
sobras frias de comida que não ingeri
mãos sempre vazias, o que por elas passar
ou será jogado fora ou será
rapidamente engolido
o que importa é que vou e pelo redor,
pelas beiras, nos cantos e por aí
pessoas levarei poucas; gatos,
só os que me levarem consigo.
assim que ir, só o vento ocupará o espaço
antes gasto comigo
não precisarei mais de espaços próprios,
ocuparei a todos clandestinamente e
sorrateira irei para sempre embora
sem ninguém notar.
só existo no meu tempo sem espaço e
ninguém além de mim sabe
o compasso, por isso me vou...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

sala de esperar

me encontra lá na tua sala de estar
com teus olhos perfeitos, tristes e conturbados
onde eu desejo me afundar eterno
pra você me salvar e ser minha sorte
minha ilha perdida, minha armadilha,
teus olhos fugindo, se escondendo no escuro
na profundeza abissal de teus pensamentos
onde eu me jogo e tento, aflita
me prender nas tuas coisas, tuas histórias
que me contas em detalhes tantos
mas de todos, só vejo teus olhos
portanto, me encontra e me olha
eu vou estar
cantarolando tua chegada
sentada na minha sala de esperar

domingo, 21 de março de 2010

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eu ando apaixonado por cachorros e
bichas

porque eles sabem que amar é abanar o rabo, lamber e
dar a pata

terça-feira, 16 de março de 2010

extravagante demais, ácido demais

faço o tempo correr mais rápido desde então. engulo todas as horas voraz, cada parte de segundo descendo pela minha garganta, áspera. deixo para sentir melhor e maior o tempo para quando eu puder me dar toda para o seu amor, que exige horas longas e pesadas, intensas e constantes de conhecimento das tuas miudezas; porque, por absurdo que seja, ainda não pude te deixar. por enquanto, sou só e aguardo chegar o inverno de meus dias, quando folhas secas possam enfim cair, deixando sair, tosco ainda, o novo. depois os ipês florindo, dourados reinando sobre nossas cabeças, convocando os amantes às ruas; tudo feliz, ao menos em tese.
tudo se divide em semanas, tão rápido me passa. segunda-feira é dia de me vestir de Gente, do que quase me convenço durante a semana. mas, para minha sorte e perdição, no primeiro segundo da sexta-feira já me vem o tinhoso, me jogando em qualquer alucinação barata e acabo eu tendo a certeza que a verdade do mundo está nas ruas, e beijo fundo essas bocas que encontro, na tentativa de provar que não preciso de você, que outros me amam mais e melhor e que já me esqueci como era teu beijo, que nada vale mais para minha vida o veneno fraco que colocasse em mim... frustrada. porque era esse teu jogo, que eu me embriagasse lento com este veneno agridoce e logo depois precisasse de mais, de doses maiores e mais concentradas.
e falo do que passou e do que você me deixou; vícios irrecuperáveis, vida e morte de toda e qualquer esperança inútil, um princípio de enfizema pulmonar, infarto do miocárdio e mais o quê? o grande vazio nos olhos agora de vidro, areado e fosco. é claro que me precipitei, que enxerguei pactos no escuro, me meti toda na tua vida sem licença porque tudo é meu, mas você não era minha, só você e por que exatamente não poderia, que a quis. e no amor, eu tomo posse. o verbo é ter, não vou mentir. mas nada existia e você me vendava os olhos como quem quer fazer doer menos, segurava minha mão conduzindo uma criança para a sala de vacina e me olhava triste, meu deus você me olhava já sabendo que ia doer e que nada poderia fazer. e que viriam outras dores, quer dizer, você sabia que nada poderia fazer pelo meu amor, que era extravagante demais para você se vestir dele, talvez ácido demais para teu paladar discreto, e que seria necessário me machucar, de vez em quando. você me achava forte.
tudo passou, já não te vejo mais e não sei de ti. mas ainda penso em deixar os cabelos crescerem para você e penso ainda em teus caprichos de menina, que talvez seja uma questão de tempo para eu enfim atendê-los mais uma vez. o que você vai fazer com tua vida? a minha ainda anda presa a você como a vidas passadas, teu semblante surgindo ameaçador e incoveniente por entre as memórias, no meio do dia, do trabalho e mais constante, do sono. só o peso do que já vivemos alguma vez, certo lugar, mas que ainda não passou, prendendo meus passos no chão como grandes placas de concreto. de certa forma, abandonamos a obra pela metade porque passamos a não gostar mais da idéia inicial, deixamos aquele pedaço em branco mesmo, esquece tudo isso, não é arte, não é amor.
faça o que quiser, me prove que eu estava errada, me puna e me deixe ir. se perca com os teus amores pueris, que como eu, também são insensatos e te consomem. assuma as tuas dores e faça as tuas escolhas e as tuas perdas. mas a mim, que carrego o místico, esqueça simplesmente. não é preciso se preocupar com nada. nossos sonhos à noite guiarão nossos passos durante o dia. e assim, no auge dos nossos vinte-e-poucos-anos, mas já carregadas de nostalgias, correremos sobre o mundo pisando e esmigalhando toda a antiga verdade dos tolos que simplesmente vagam bovinamente, pastando e digerindo merda. nós, em uma tarde vazia de janeiro levemente ensolarada, em que nada mais houver para correr, talvez nos encontremos sem combinarmos, e com as mãos já marcadas - o tempo - exterminaremos todo aquele branco deixado para trás e criaremos, juntas, alguma coisa que alguém muito simples possa olhar e chamar, enfim, de bela.

sábado, 13 de março de 2010

.

não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado

quinta-feira, 4 de março de 2010

saudade, vai tomar no cu

todos os dias assim que eu acordo me renasço, de mim mesma, eu mesma faço o parto e dói. e meus sonhos são sempre também metade pesadelos, porque me lembram de algo que eu na realidade não fiz e de lugares dos quais não pude trazer nada de recordação. quando me prosto a este mundo, meus ombros caem no resto de minha carcaça cansada e minhas pernas pesam o peso de minha consciência e assim me arrasto durante o dia. o corpo, a cabeça, outra parte, distante, nada me liga ao corpo e mesmo assim ele vai a muitos lugares durante o dia, e minha cabeça vai a tantos outros, melhores e desejáveis e quando durmo, até muitíssimo indesejáveis. a saudade faz essa coisa, mutila meu corpo. pegou assim minha cabeça e levou para um santuário secreto ao sul de qualquer terra maldita. e ali fico cultuando tudo e todos que eu não tive. a saudade é qualquer coisa que te pega assim que te acorda. mas há que levar a vida. e andamos em frente, por fora todas as coisas multicoloridas do mundo e todas as pessoas passando, deixando, passando e nos deixando. me dando coisas suas para que eu as guarde. eu jogo tudo fora porque não quero nada a mais daquilo que ainda não tenho e que não posso ter. dispenso tudo o que tenho porque já tenho e a melhor coisa que se pode fazer com algo que já se tem é não ter mais. guardar jamais, guardar não. guardar não dá em nada. bom é ser vazio. e deixar tudo passar, parar jamais, tudo passando e tudo novo. novíssimo, o brilho do novo para todos os lados. a saudade faz isso. desvaria a gente durante as horas inapropriadas e cria grandes buracos nos dias e nas noites, que a gente até tenta preencher, com tudo o que se vê pela frente, mas é como um quebra-cabeça. não há o que se encaixe a não ser o que devia estar ali. eu preencho tudo de mal jeito e mal gosto, mas me sinto a vontade no erro, e sigo. a meta é não guardar mais nada e o que tiver jogar fora. jogar fora as pessoas que não se renovam dentro de mim e que não se tornam outras e assim, também eu não me torne ultrapassada. eu quero o novo. tudo e todos que são parte de mim ficarão, como aquelas que são meus braços ou minhas pernas, ou até minha cabeça. a cabeça é de tudo e de todos, joguei fora há muito tempo e não faço questão de reavê-la. mas meu coração, meu coração é meu, e ele é a única coisa antiga e ultrapassada que eu vou ter dentro de mim, de resto tudo novo. saudade é pra quem fica parado e espera. não quero mais. beijos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

àquelas pernas

"quem inventou a expressão 'um ombro amigo' não conhecia uma coxa"


OH DEUS permita que eu veja denovo aquelas pernas permita que eu viva ao lado daquelas pernas e que eu envelheça sedentariamente ao lado daquelas pernas pra que quando jé velha e cansada eu peça abrigo naquelas pernas e pra quando nada mais bastar eu olhe denovo aquelas pernas e veja que há sempre um motivo para se animar
OH DEUS eu te peço que não leve essas pernas para longe de mim eu te peço para que mude a direção do andar destas pernas até mim que ao lado destas pernas só há felicidade sem fim e que seja sem fim que elas perambulem por aí mas que ao fim do dia estas pernas retornem para mim
OH DEUS eu que nem sei se acredito em você te rogo que conserve o tom sadio dessas pernas e que as proteja de qualquer artrite artrose osteoporose e vitiligo porque naquelas pernas não pode haver nada disso porque são pernas divinas torneadas por anjos torneiros mecânicos e por isso só merecem os melhores sumos hidratantes preparados por ninfas saltitantes
OH DEUS eu te peço ainda se não for muita ousadia que estas pernas se voltem para mim porque por estas pernas eu pego as minhas e corro até elas porque elas são a inspiração desta gata velha que fracassada só carrega na memória a intenção de um dia se enroscar denovo naquelas pernas e dormir naquelas pernas e acordar naquelas pernas e viver sempre ao lado daquelas pernas

porque todo gato, DEUS, tem adoração por pernase as que eu achei, me deixaram saudades eternas.

28.09.08

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

segunda-feira de cinzas

e então na segunda-feira de cinzas, com um telefonema certeiro da chefe, o carnaval acabou. mesmo assim, tendo durado cinco dias a mais que o combinado com a prefeitura, meu carnaval poderia durar quem sabe até um mês. com idas frequentes às paradas de sucesso, neste caso, uma no primeiro dia e outra ao final, ritmado quase como quem dança; dança de roda, sabe. vistas completamente privadas do rio de janeiro. os carros alegóricos da mangueira, grande rio, mocidade, o que seja, atrapalhando o trânsito na presidente vargas, em pleno amanhecimento do dia; coisa rara. os dias quentes, os mais quentes do brasil, passando devagar. acordar depois que o sol se pôs foi uma necessidade, compreenda. o santa bárbara fechado, causando tumulto e tensão dentro do taxi, que até tinha um tal gps, mas o coitado não sabia do santa bárbara fechado, abre as janelas que todo mundo vai fumar um cigarrinho. e ainda é carnaval, toca essa carroça pra frente que tem muito rio de janeiro pra gente!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

carnaval

taí o carnaval. todos vestem as fantasias que melhor lhe cabem, mas a maioria mesmo quer é ser malandro, mesmo que a tal pessoa não fique muito bem trajando branco. não tem jeito e eu que me foda. ou não, quer dizer, às vezes é até melhor ficar fora de certas coisas, ser passada pra trás. o samba ainda é a melhor parte e continuará sendo por todo o resto de mundo o meu conforto. só que neste carnaval o meu samba não vai atravessar a avenida, nem desfilar pelos blocos nas ruas e esquinas desse rio de janeiro, não... o meu samba vai chorar bonito nas cordas de um violão, quem sabe do cartola ou do noel rosa. eu sei reconhecer a hora da retirada, agora, pra ontem. essa jogação descompensada não está mais funcionando pra mim, admito. estou pedindo a conta do bar, meu amigo.
meus sonhos me contaram que em algum lugar - ou em vários - alguém se esquece de mim e me estranha como se nunca tivesse me conhecido. sei que não tenho mais aquele jeito menina de ser e que ganhei algumas rugas nestes últimos meses, fiquei mais feia e ninguém mais acha que eu tenho menos idade do que realmente tenho; coisa triste. uma hora a gente tem que aprender a ter medo de amar e, no meu caso, mais de uma pessoa foi responsável por isso, acelerou tudo. amadurecer é aprender a ter medo, pergunte ao pirralho mais próximo de ti. eu sei que estou muito chata e desacreditada, não queria, mas quando se envelhece dez anos em poucos meses... rolam alguns efeitos colaterais.
mas é carnaval! o que fazer com o som dos batuques que estarão por toda parte? como não sair sambando por aí? o copo na mão, chinelo no pé, chapéu na cabeça. eu vou, eu vou, eu ainda não consigo sair deste boteco com uma conta deste tamanho pendurada. o que tem é coisa pra eu pagar e apagar aqui. quanta bagunça pra arrumar! no carnaval não dá... mas quando chegar a quarta-feira de cinzas, aí sim! uma casa inteira pra arrumar sozinha, novos cortes e cores no cabelo, um bronzeado na pele, pessoas realmente importantes para amar, fred e bernardo pra cuidar, tudo novo. meu maior desejo pra esse ano (que, claro, só começa depois do carnaval) ? me achar perdida pelas cinzas na quarta-feira.
bandeira branca, MEU amor.

domingo, 10 de janeiro de 2010

hoje, que dia ?

é uma infelicidade tudo isso.
eu nasci meio humana e fui indo meio bicho, querendo tomar conta das coisas e tudo pra mim. e você tava lá, sozinha, andando perdida, eu achei que seria bom te chamar pra mim. mas depois vi que era você quem me chamava numa língua que eu não entendia, mas que refletia dentro do inconsciente. mas me enganei que tu estavas só, havia quem te seguisse além de mim. e foi quando tudo começou e a gente se juntou, o sujo e o mal lavado, gente da mesma laia. a gente nasceu pra ser triste, e no meu caso, também egocêntrica e vingativa. você, também confusa e levemente depressiva. mas nossas histórias são lindas, ao menos, nada sabe ser mais bonito que a tristeza. e a gente mergulhou na infelicidade de sermos nós, patéticas para o amor, esta coisa ridícula; servíamos para aquele acaso triste, porque também éramos ridículas e também burras, porque é extremamente necessária a burrice no negócio do amor.
hoje somos nada de nada. por mais que eu me pense moderna e desapegada, sei que perdi uma certa disputa, que eu nunca admiti disputar. o orgulho é uma fortaleza feita de cartas, desaparece num sopro. um sopro que sempre sai de você. e aqui vai mais um sopro seu, só seu em minha direção. e de novo vou ter que construir meu castelo de cartas para de novo você soprar e fazer desmoronar tudo em mim. sempre me perguntei até quando ficaria nesta putaria sem graça, e depois de tanto tempo eu ainda não aprendi que não se mede o tal tempo. o que sei é que aprendi a estar nisso tudo e a conviver com esta dor no cotovelo, essa tal disputa não ganha. não de forma pacífica, é claro. eu tive que expurgar estes demônios para você, entenda. eu não choro.
eu acho tudo muito infeliz, mas consigo dizer isto sem ressentimentos. afinal, é também obra minha e muito sinceramente, não vejo conduta da qual me arrepender. eu fiz muito, isso você deve saber, eu fiz muito. talvez fosse melhor ficar em casa, como você queria. mas desde sempre tive o impulso de te contrariar, algo me dizia que eu não devia te fazer exatamente feliz, quem sabe ao menos aflita. aflita é melhor que feliz, eu acho. hoje, acho que nem isso consigo fazer. não te deixo mais aflita, nem nervosa, nem com raiva e nem nada, pelo menos não como eu queria. e me desespero e maldigo a vida a teu lado e rogo pragas para você, porque foi nesta função que me colocastes agora. você devia saber que eu sou uma criança pirracenta atrás de um sorvetinho. e que, pra minha cabeça, não existe meio termo possível, nada de esperanças. diferente de você, que admite todos os meio termos e acredita que o tempo muda as pessoas.
hoje, eu queria nas minhas mãos a melhor pistola americana só pra matar toda essa raiva, todo esse sentimentozinho chato que tem dentro de mim. acabaria com uma ou duas pessoas e sairia por aí, fugindo da polícia pelo brasil, arrumando briga com o diabo, deus do meu lado, eu ia me esconder no sertão. você, eu queria esquecer e só de pirraça matar o vagabundo que te tirou de mim, te mostrar que você estava errada. não adianta, nada do que a gente faça será possível pra nos tornar, quem sabe um dia, dignas. a gente já bagunçou toda a casa e se quisermos viver, teremos que viver dentro dela assim. vai ver era pra ser desse jeito mesmo, amando e odiando sem fim.
hoje eu tô possessa, mas o meu orgulho é maior. só não é maior que você. mas você não sabe disso. aliás, você não sabe de muita coisa assim como eu também não sei que muita coisa é mentira pra mim e pra você. porque somos burras uma para a outra, e talvez o maior sinal de amor seja este, a nossa burrice. e chega a ser tão ridículo que eu tenho certeza que isso é coisa de deus. ou do cão, vai saber. sendo quem for, já se divertiu e agora se cansou, nos jogou fora numa casa de adoção. teu dono veio te buscar e eu fiquei porque o meu nunca existiu, e eu resolvi fugir por aí com outros de rua, como eu.
hoje eu tô nessa de perdida, me jogando em esquina de bar, me passando por rica.
não acredita em nada, coração. é tudo mentira, é tudo mentira.
um dia a gente esquece o ódio e volta a amar;
que dia ?