terça-feira, 27 de julho de 2010

entardecer-te

a outra ficou ali meio sem ter o que fazer, onde colocar as mãos, onde ir, justamente o tempo de se pensar em um resgate, pensar estratégias, meios e maneiras. a mente estática na tentativa de trazê-la de volta e depois a apatia do que não havia mais jeito, nada para ser feito. era tarde e todo segundo escorria, o vento provocando as árvores fortes e bem estruturadas do campo, tentando mudar todos aqueles rumos insensatos que se seguiam pelas estradas do país. tudo entardecia e parecia arranhar. foi vagar pelo lugar onde antes podia encontrá-la a qualquer momento e embora a mente ainda colocasse os olhos a procura daquele rosto, este já não estava mais lá, apenas os incontáveis desencontros que os olhos da outra acharam naquele espaço já vazio e triste, só o cheiro de bebida velha e fim de festa. quis sair dali rápido, ir beber do veneno de sua rotina como se fosse importante, fingir que nada havia acontecido e que nunca se enamorara, fugir pro início de tudo e começar outra vez. teria perguntado seu nome naquela tarde se por algum acaso soubesse da falta? por um segundo cogitou e acreditou em máquinas do tempo. sim, perguntaria. porque havia de ser e não tinha jeito, mas agora doía. também o corpo não sabia mais nem como respirar, do que a falta constante de ar do lugar a lembrava sempre. mesmo assim respirava pouco, fraco e baixo, como que mantendo apenas uma subvida, era só atividade cerebral constante tentando resolver enigmas do tempo e do espaço. depois de tantos encontros que, por fato irremediável da vida, são seguidos de desencontros, e destes tendo sobrevivido, teve medo e sentiu vontade de sair correndo pela estrada, dizer-lhe da insanidade que era voltar pra casa, que o mundo já ia acabar e que precisava ficar, sem motivo, sem porque, só ficar ao seu lado em silêncio, como num dia banal, mas não. haviam todas aquelas coisas que cada pessoa precisa fazer, a casa, algo parecido com uma família e também aquilo que chamam trabalho. e haviam pessoas! várias delas, sem as quais não se vive. porque, diferente da outra, ela sabia perfeitamente o que devia fazer agora. o que não importava mais, os motivos. ouviu a sua voz dulcíssima durante todo o dia, saindo da boca de outros, dizendo coisas que não lhe cabiam, a outra ficou ainda mais perturbada. o que mais sua mente seria capaz de produzir por conta da falta? prefiriu acreditar no que existia e também voltou pra casa.

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