sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Do disco Elis - Como e Porque.

1o. Quando parti pro meu disco, estava convencida de que um disco tem que ser funcional.
2o. A "filosofia" deste disco é outra. Outra é a pessoa que o gerou. Há razões profundas para que assim seja.
3o. O medo que eu tinha se me afigurou ridículo vendo aquele homenzinho solto no espaço. Sem cordão umbilical.
4o. As coisas que eu vi e vivi, nos lugares todos, se refletem na música que faço hoje e que, dependendo do que eu ver e viver, farei ou não amanhã.
5o. O Wilson chegou com uma batida estranha e um disco de Gerald Wilson debaixo do braço. Entramos na era do "rhythm'n'blues", que é a colaboração do blues para a vida do yé-yé. Eu e Antônio Adolfo "vibramos".
6o. Mudamos para o "Canto de Ossanha". Foi a colaboração do Baden ao "rhythm'n'blues".
7o. A gente sentiu que estava bom quando o Menescal aprendeu a dançar.
8o. O Jura saiu em campo, buscando um baixo-elétrico. As pessoas todas precisavam ouvir seus duetos alucinantes com a guitarra. Também elétrica.
9o. O Hermes está meio na "fossa". Os cubanos não inventaram a tumba eletrônica...
10o. Os arranjos são do Erlon.
11o. A foto é do Paulo Garcez. Meu alucinante amigo. De alucinantes bigodes e "pince-nez"... Do avô.
12o. O Armando mexeu nos botões todos do estúdio. E deixou o Deraldo doidinho.
13o. Recebi um grande crédito de meus músicos, meus produtores, meu marido. E de André.
14o. Será que o mereço dos demais? Dos que, à distância, vão escutar nosso trabalho?
15o. Que minha música seja escutada com o mesmo carinho com que é feita. E que não perca o fôlego nesse longo mergulho que é chegar até vocês.
Amém.
Elis Regina.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Os acrobatas

Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse fisica dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto, imensamente
Imensamente alto.


Vinícius de Moraes.