sábado, 27 de julho de 2013

ensaio

eu não queria te escrever uma carta de amor. depois de tanto tempo, estas letras não podem e nunca puderam te dizer coisa nenhuma. talvez minha mensagem devesse ser uma previsão do tempo do próximo final de semana, pra você poder brincar lá fora. pra você poder viajar, sem nenhuma turbulência, sem nenhuma preponderância inadequadamente colocada/enciumada de minha parte. mas, sinceramente, não sei se quero saber a finalidade desta carta. não sei se quero saber muito sobre o fardo que é estar lhe escrevendo pela milionésima primeira vez. apenas estou aqui, bêbada, emotiva, dramática, tentando desenhar qualquer coisa. apesar de toda inexperiência, apesar de toda vida não vivida e de toda vida imaginada. por quê falar da semana que passou? quando você apareceu como uma ameaça para os meus medos de menino desvirginado? quando você apareceu como o alvo do desejo mais romântico e depravado de minha nudez? quando você se tornou a única referência absoluta da mulher indivisível, da mulher infalível, da única mulher possível de viver sabidamente romântica e cruel, e ainda assim, honesta, deste mundo que ainda não conhecemos? como posso escrever o verso capaz de te inebriar, meu deus? como devastar a tua alma com estes sofrimentos satisfatórios que me imputas com teus desprezos? minha vontade era te hipnotizar, te controlar as vontades, te ventrilocar, te botar no meio de minha rota como uma pedra que tenho que amar e levar comigo pro resto do caminho, porque não consegui te chutar ao acaso. quero levar seu nome ao fundo de tudo que conheço como vida, te testar em minhas aventuras românticas, pra ver se ainda vive. quero te gritar que você presta pouco, que eu faço um escândalo, mesmo correndo perigo de te amar ainda mais. e quando não mais te quero, já estraçalhada, reivindica seu lugar em meu peito, que é terra loteada em teu nome. e, no entanto, não adianta o quanto que berro, o quanto que esperneio para que venha tomar posse do que é teu por direito, porque deliro. depois de tanto tempo, o que eu poderia te escrever? que ainda sou puerilmente apaixonada e capaz de todos os excessos para demonstrar isto? eu já fiz tudo o que podia fazer e já aguentei tantas horas de vôo quanto foi possível para saber, afinal, que você estava tão perto que meu amor, hoje, não depende mais disto. desta vida incrível que você exibe por aí, deste tempo e deste espaço que não desperdiças. só vai por onde te levam e, ainda assim, só vai aonde queres. ouvi uma vez esta história. o homem voltou para viver aquele amor, mas quando chegou, anos depois, já haviam outros em seu lugar. o meu amor ainda te cai bem? o meu beijo ainda te faz guardar segredos? como posso ter de novo tuas mãos vadias em mim? como posso ter de novo tuas mãos me acordando? tuas mãos me dedilhando? me dando bom dia pelas pontas dos dedos? como posso ter de volta tuas mãos? como posso fazer você desejar meu corpo, que é primavera quando queres flores? como posso te prender no meio de minhas pernas para que aprendas, de uma vez por todas, como é amar uma mulher? já me entregou teu corpo como quem se desfaz dele, e já tomou posse do meu como um ditador, deliciosas torturas. se eu pudesse ter de volta todas as horas que te fiz juras de amor, as trocaria pelo silêncio que hoje compartilhamos, porque nunca houve palavra capaz de te dizer deste suspiro calado que me vem vez em quando. como posso te dizer o quanto te odeio? de quando te como com as mãos, e depois, lambo os dedos... meu amor, por mais que eu queira ter uma resposta, só posso te dizer que estou aqui, e vivo minha vida que é foda, que é fodida, e que, no meio dela, tenho você, como uma esperança esquecida de uma louca internada em sua própria vida, como um delírio de alguém condenado ao saudosismo do que foi ter você, uma única vez que fosse. abondono a vontade de nos acharmos, um dia. não hoje, não amanhã e nem ontem. um dia fora do tempo quando você olhará para mim e verá, não apenas uma mulher loucamente apaixonada e ensandecida pelas horas passadas no desejo, mas uma mulher cansada, plena, por tudo o que há vivida, legítima, e aí, quem sabe, não poderei te olhar com outros olhos? e você se dará conta de minhas palavras? e você escutará o som inaudível do meu desejo correndo pelas tuas veias, do barulho ensurdecedor que tuas insinuações me reverberam... me coma, meu bem, me mastiga de uma vez por todas, me degustas e aproveitas, me prova. me morde, me arranca o pedaço e me tira o pecado, meu amor. me tira um pedaço e por este buraco, me invade com seu medo, me explora com tuas mãos (doces!), me ponha entre tuas pernas ou me solta. ou me solta. ou me