quarta-feira, 16 de setembro de 2009
catavento
talvez coisas que a gente nunca devesse ter feito ou dito. um dia parado, sensação do tempo corroendo as entranhas, o dia e os pensamentos nublados e cheios de sombras, aquela tentativa desesperada de sanar a ansiedade no banheiro, escondido de todo mundo; e depois o medo. a paranóia, tudo junto vindo como nunca viera. muita gente em volta e ninguém por perto, a avacalhação da própria alma, o receio e o desejo da solidão; ainda mais depois de ter abandonado tantas coisas nos últimos tempos e por escolha própria. o dia seguia. o caminho que escolhera talvez fosse todo assim, escuro, meio frio e parado. mas já não tinha como voltar atrás; participara de um tipo de ritual inconsciente de si mesma, e agora deveria fazer do amargo o seu gosto, de sombrias as suas idéias e sentimentos, e o amor, bem, este lhe traria sensações de náuseas, convulsões e perda dos sentidos; resultado do acidente que sofrera em agosto. não conhecia mais o romance. repulsa, era a reação primeira em face dela. era bem verdade que se sentia cansada e não acreditava mais em ninguém. o dia ia. tudo estranho, pessoas sozinhas em salas com móveis que cheiravam a tempo, todas elas cinzas, tudo parado e morto. ou, ao menos dormindo, um sono pesado cheio de pesadelos; pre visões do outro lado do mundo, ou do outro lado da rua. a sincronicidade das maldições de sua nova vida acontecendo a olho nu, todos os fatos ligados para afetar-lhe cada vez mais, e tudo previsto em pesadelos que duravam toda a noite, quando dormia. se perguntava, naquela tarde, se valia a pena seguir agora. o porque de cada minimo detalhe de seu moroso cotidiano, achava tudo chato, apenas insuportável. não queria sentir o vento passar, mas ir junto. entretanto, ficara. pensara que se pudesse alcançar aquela janela do oitavo andar, poderia voar para longe, feito papel solto na rua ou quem sabe um catavento solto no ar. mas não tinha certeza, era bem verdade que se sentia casada e não acreditava mais em nada. sabia que agora era de pedra, e tinha medo.
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