quinta-feira, 4 de março de 2010

saudade, vai tomar no cu

todos os dias assim que eu acordo me renasço, de mim mesma, eu mesma faço o parto e dói. e meus sonhos são sempre também metade pesadelos, porque me lembram de algo que eu na realidade não fiz e de lugares dos quais não pude trazer nada de recordação. quando me prosto a este mundo, meus ombros caem no resto de minha carcaça cansada e minhas pernas pesam o peso de minha consciência e assim me arrasto durante o dia. o corpo, a cabeça, outra parte, distante, nada me liga ao corpo e mesmo assim ele vai a muitos lugares durante o dia, e minha cabeça vai a tantos outros, melhores e desejáveis e quando durmo, até muitíssimo indesejáveis. a saudade faz essa coisa, mutila meu corpo. pegou assim minha cabeça e levou para um santuário secreto ao sul de qualquer terra maldita. e ali fico cultuando tudo e todos que eu não tive. a saudade é qualquer coisa que te pega assim que te acorda. mas há que levar a vida. e andamos em frente, por fora todas as coisas multicoloridas do mundo e todas as pessoas passando, deixando, passando e nos deixando. me dando coisas suas para que eu as guarde. eu jogo tudo fora porque não quero nada a mais daquilo que ainda não tenho e que não posso ter. dispenso tudo o que tenho porque já tenho e a melhor coisa que se pode fazer com algo que já se tem é não ter mais. guardar jamais, guardar não. guardar não dá em nada. bom é ser vazio. e deixar tudo passar, parar jamais, tudo passando e tudo novo. novíssimo, o brilho do novo para todos os lados. a saudade faz isso. desvaria a gente durante as horas inapropriadas e cria grandes buracos nos dias e nas noites, que a gente até tenta preencher, com tudo o que se vê pela frente, mas é como um quebra-cabeça. não há o que se encaixe a não ser o que devia estar ali. eu preencho tudo de mal jeito e mal gosto, mas me sinto a vontade no erro, e sigo. a meta é não guardar mais nada e o que tiver jogar fora. jogar fora as pessoas que não se renovam dentro de mim e que não se tornam outras e assim, também eu não me torne ultrapassada. eu quero o novo. tudo e todos que são parte de mim ficarão, como aquelas que são meus braços ou minhas pernas, ou até minha cabeça. a cabeça é de tudo e de todos, joguei fora há muito tempo e não faço questão de reavê-la. mas meu coração, meu coração é meu, e ele é a única coisa antiga e ultrapassada que eu vou ter dentro de mim, de resto tudo novo. saudade é pra quem fica parado e espera. não quero mais. beijos.

2 comentários:

  1. e minhas pernas pesam o peso de minha consciência e assim me arrasto durante o dia.'



    muito, muito, muito bom esse texto!

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