sábado, 11 de dezembro de 2010
o dia
o que dizer depois de tanto tempo ? que muita coisa ocorreu, que minha esperança morreu ? não. direi que minha alegria é mais humilde e a perda humana, a séria falta das pessoas que eram pilares magistrais, deve ser vista como é: aprender a ser por si só. e procurar aonde seja aquela velha maneira de ser, ter fé na vida e entender nada, absolutamente nada porque fé é isso. não entender nada e ir.
e não sei pra onde vou, o que será depois de amanhã, não sei. o sol me cega e daí corro pelas horas, o dia azul, dia de verão, dezembro matando em cima e você correndo de dezembro, fingindo que é assim ainda um setembro. vamos seguindo malandramente pelo Rio. esse Rio de meu Deus do céu, o que será. planejo fugir pra sentir saudades e voltar a ti, jurando amor eterno, assim de um jeito bobo pra ti, Rio. volto sorrindo! me espera...
não importa o quanto se altere, o quanto de pessoas me reneguem e o quanto horas vendo a loucura se apossar irão durar, não importará. fé na vida virá, na estrada caminhar, andar pra não parar no mesmo lugar, ver ficar, ver partir e não parar pra pensar, apenas pensar no dia, somente no dia azul, no azul da manhã do dia que chegará.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
des-espero espero
sem motivos prevejo meu exílio
por não saber lidar com paredes
e deixar sempre as portas abertas
planejo um fuga discreta humilde
como quem pula pela janela
assim sem acordar a família, sem
ao menos dar um beijo na sobrinha
indo embora assim no vento
embora como que despercebida
apenas o gato negro a me fitar ciente
porque de fugas ele entende
e na noite a passar uma febre ardente
por estar tudo agora tão diferente
diferente sem você
diferente sem porquê
diferente só por ser
por ser vida à mercê
não te levo
mas espero
que saia
desse desespero
te busco
prometo
voltar e te despertar num beijo
mas só quando você acordar
mas só quando você acordar
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
retrato do desconhecido
Ele tinha uns ombros estreitos, e a sua voz era tímida,
Voz de um homem perdido no mundo,
Voz de quem foi abandonado pelas esperanças,
Voz que não manda nunca,
Voz que não pergunta,
Voz que não chama,
Voz de obediência e de resposta,
Voz de queixa, nascida das amarguras íntimas,
Dos sonhos desfeitos e das pobrezas escondidas.
Há vozes que aclaram o ser,
Macias ou ásperas, vozes de paixão e de domínio,
Vozes de sonho, de maldição e de doçura.
Os ombros eram estreitos,
Ombros humildes que não conhecem as horas de fogo do
amor inconfundível,
Ombros de quem não sabe caminhar,
Ombros de quem não desdenha nem luta,
Ombros de pobre, de quem se esconde,
Ombros tristes como os cabelos de uma criança morta,
Ombros sem sol, sem força, ombros tímidos,
De quem teme a estrada e o destino
De quem não triunfará na luta inútil do mundo:
Ombros nascidos para o descanso das tábuas de um caixão,
Ombros de quem é sempre um Desconhecido,
De quem não tem casa, nem Natal, nem festas;
Ombros de reza de condenado,
E de quem ama, na tristeza, a sombra das madrugadas;
Ombros cuja contemplação provoca as últimas lágrimas.
Os seus pés e as suas mãos acompanhavam os ombros
num mesmo ritmo.
Mãos sem luz, mãos que levam à boca o alimento
sem substância,
Mãos acostumadas aos trabalhos indolentes,
Mãos sem alegria e sem o martírio do trabalho.
Mãos que nunca afagaram uma criança,
Mãos que nunca semearam,
Mãos que não colheram uma flor.
Os pés, iguais às mãos
— Pés sem energia e sem direção,
Pés de indeciso, pés que procuram as sombras e o esquecimento,
Pés que não brincaram, pés que não correram.
Não direi, não terei a delicadeza precisa na expressão
para traduzir o seu olhar.
Não saberei dizer da doçura e da infância daqueles olhos,
Em que havia hinos matinais e uma inocência, uma tranqüilidade,
um repouso de mãos maternas.
Não poderei descrever aquele olhar,
Em que a Poesia estava dormindo,
Em que a inocência se confundia com a santidade.
Não poderei dizer a música daquele olhar que me surpreendeu um dia,
Que se abriram diante de mim como um abrigo,
E que me trouxe de repente os dias mortos,
Em que me descobri como outrora,
Livre e limpo, como no princípio do mundo,
Envolvido na suavidade dos primeiros balanços,
Sentindo o perfume e o canto das horas primeiras!
Não direi do seu olhar!
Não direi do seu olhar!
Não direi da sua expressão de repouso!
Ainda não sei se era dele esse olhar,
Ou se nasceu de mim mesmo, num rápido instante de paz
e de libertação!
Augusto Frederico Schimdt
(1906-1965)
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Poema da Desintoxicação
Em densas noites
com medo de tudo:
de um anjo que é cego
de um anjo que é mudo.
Raízes de árvores
enlaçam-me os sonhos
no ar sem aves
vagando tristonhos.
Eu penso o poema
da face sonhada,
metade de flor
metade apagada.
O poema inquieta
o papel e a sala.
Ante a face sonhada
o vazio se cala.
Ó face sonhada
de um silêncio de lua,
na noite da lâmpada
pressinto a tua.
Ó nascidas manhãs
que uma fada vai rindo,
sou o vulto longínquo
de um homem dormindo.
João Cabral de Melo Neto
terça-feira, 27 de julho de 2010
entardecer-te
terça-feira, 13 de julho de 2010
sobre ir
assim que meu tempo sincronizar em mim e
ritmar o de dentro e o de fora, me vou
não vou longe, porém irei
levarei meus livros em uma estante
que carregarei nas costas
nos bolsos, mil coisas
são sementes, trocos dados e usados
sobras frias de comida que não ingeri
mãos sempre vazias, o que por elas passar
ou será jogado fora ou será
rapidamente engolido
o que importa é que vou e pelo redor,
pelas beiras, nos cantos e por aí
pessoas levarei poucas; gatos,
só os que me levarem consigo.
assim que ir, só o vento ocupará o espaço
antes gasto comigo
não precisarei mais de espaços próprios,
ocuparei a todos clandestinamente e
sorrateira irei para sempre embora
sem ninguém notar.
só existo no meu tempo sem espaço e
ninguém além de mim sabe
o compasso, por isso me vou...
segunda-feira, 17 de maio de 2010
sala de esperar
com teus olhos perfeitos, tristes e conturbados
onde eu desejo me afundar eterno
pra você me salvar e ser minha sorte
minha ilha perdida, minha armadilha,
teus olhos fugindo, se escondendo no escuro
na profundeza abissal de teus pensamentos
onde eu me jogo e tento, aflita
me prender nas tuas coisas, tuas histórias
que me contas em detalhes tantos
mas de todos, só vejo teus olhos
portanto, me encontra e me olha
eu vou estar
cantarolando tua chegada
sentada na minha sala de esperar
domingo, 21 de março de 2010
.
bichas
dar a pata
terça-feira, 16 de março de 2010
extravagante demais, ácido demais
tudo se divide em semanas, tão rápido me passa. segunda-feira é dia de me vestir de Gente, do que quase me convenço durante a semana. mas, para minha sorte e perdição, no primeiro segundo da sexta-feira já me vem o tinhoso, me jogando em qualquer alucinação barata e acabo eu tendo a certeza que a verdade do mundo está nas ruas, e beijo fundo essas bocas que encontro, na tentativa de provar que não preciso de você, que outros me amam mais e melhor e que já me esqueci como era teu beijo, que nada vale mais para minha vida o veneno fraco que colocasse em mim... frustrada. porque era esse teu jogo, que eu me embriagasse lento com este veneno agridoce e logo depois precisasse de mais, de doses maiores e mais concentradas.
e falo do que passou e do que você me deixou; vícios irrecuperáveis, vida e morte de toda e qualquer esperança inútil, um princípio de enfizema pulmonar, infarto do miocárdio e mais o quê? o grande vazio nos olhos agora de vidro, areado e fosco. é claro que me precipitei, que enxerguei pactos no escuro, me meti toda na tua vida sem licença porque tudo é meu, mas você não era minha, só você e por que exatamente não poderia, que a quis. e no amor, eu tomo posse. o verbo é ter, não vou mentir. mas nada existia e você me vendava os olhos como quem quer fazer doer menos, segurava minha mão conduzindo uma criança para a sala de vacina e me olhava triste, meu deus você me olhava já sabendo que ia doer e que nada poderia fazer. e que viriam outras dores, quer dizer, você sabia que nada poderia fazer pelo meu amor, que era extravagante demais para você se vestir dele, talvez ácido demais para teu paladar discreto, e que seria necessário me machucar, de vez em quando. você me achava forte.
tudo passou, já não te vejo mais e não sei de ti. mas ainda penso em deixar os cabelos crescerem para você e penso ainda em teus caprichos de menina, que talvez seja uma questão de tempo para eu enfim atendê-los mais uma vez. o que você vai fazer com tua vida? a minha ainda anda presa a você como a vidas passadas, teu semblante surgindo ameaçador e incoveniente por entre as memórias, no meio do dia, do trabalho e mais constante, do sono. só o peso do que já vivemos alguma vez, certo lugar, mas que ainda não passou, prendendo meus passos no chão como grandes placas de concreto. de certa forma, abandonamos a obra pela metade porque passamos a não gostar mais da idéia inicial, deixamos aquele pedaço em branco mesmo, esquece tudo isso, não é arte, não é amor.
faça o que quiser, me prove que eu estava errada, me puna e me deixe ir. se perca com os teus amores pueris, que como eu, também são insensatos e te consomem. assuma as tuas dores e faça as tuas escolhas e as tuas perdas. mas a mim, que carrego o místico, esqueça simplesmente. não é preciso se preocupar com nada. nossos sonhos à noite guiarão nossos passos durante o dia. e assim, no auge dos nossos vinte-e-poucos-anos, mas já carregadas de nostalgias, correremos sobre o mundo pisando e esmigalhando toda a antiga verdade dos tolos que simplesmente vagam bovinamente, pastando e digerindo merda. nós, em uma tarde vazia de janeiro levemente ensolarada, em que nada mais houver para correr, talvez nos encontremos sem combinarmos, e com as mãos já marcadas - o tempo - exterminaremos todo aquele branco deixado para trás e criaremos, juntas, alguma coisa que alguém muito simples possa olhar e chamar, enfim, de bela.
sábado, 13 de março de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
saudade, vai tomar no cu
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
àquelas pernas
OH DEUS eu te peço que não leve essas pernas para longe de mim eu te peço para que mude a direção do andar destas pernas até mim que ao lado destas pernas só há felicidade sem fim e que seja sem fim que elas perambulem por aí mas que ao fim do dia estas pernas retornem para mim
OH DEUS eu que nem sei se acredito em você te rogo que conserve o tom sadio dessas pernas e que as proteja de qualquer artrite artrose osteoporose e vitiligo porque naquelas pernas não pode haver nada disso porque são pernas divinas torneadas por anjos torneiros mecânicos e por isso só merecem os melhores sumos hidratantes preparados por ninfas saltitantes
OH DEUS eu te peço ainda se não for muita ousadia que estas pernas se voltem para mim porque por estas pernas eu pego as minhas e corro até elas porque elas são a inspiração desta gata velha que fracassada só carrega na memória a intenção de um dia se enroscar denovo naquelas pernas e dormir naquelas pernas e acordar naquelas pernas e viver sempre ao lado daquelas pernas
porque todo gato, DEUS, tem adoração por pernase as que eu achei, me deixaram saudades eternas.
28.09.08
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
segunda-feira de cinzas
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
carnaval
meus sonhos me contaram que em algum lugar - ou em vários - alguém se esquece de mim e me estranha como se nunca tivesse me conhecido. sei que não tenho mais aquele jeito menina de ser e que ganhei algumas rugas nestes últimos meses, fiquei mais feia e ninguém mais acha que eu tenho menos idade do que realmente tenho; coisa triste. uma hora a gente tem que aprender a ter medo de amar e, no meu caso, mais de uma pessoa foi responsável por isso, acelerou tudo. amadurecer é aprender a ter medo, pergunte ao pirralho mais próximo de ti. eu sei que estou muito chata e desacreditada, não queria, mas quando se envelhece dez anos em poucos meses... rolam alguns efeitos colaterais.
mas é carnaval! o que fazer com o som dos batuques que estarão por toda parte? como não sair sambando por aí? o copo na mão, chinelo no pé, chapéu na cabeça. eu vou, eu vou, eu ainda não consigo sair deste boteco com uma conta deste tamanho pendurada. o que tem é coisa pra eu pagar e apagar aqui. quanta bagunça pra arrumar! no carnaval não dá... mas quando chegar a quarta-feira de cinzas, aí sim! uma casa inteira pra arrumar sozinha, novos cortes e cores no cabelo, um bronzeado na pele, pessoas realmente importantes para amar, fred e bernardo pra cuidar, tudo novo. meu maior desejo pra esse ano (que, claro, só começa depois do carnaval) ? me achar perdida pelas cinzas na quarta-feira.
bandeira branca, MEU amor.
domingo, 10 de janeiro de 2010
hoje, que dia ?
eu nasci meio humana e fui indo meio bicho, querendo tomar conta das coisas e tudo pra mim. e você tava lá, sozinha, andando perdida, eu achei que seria bom te chamar pra mim. mas depois vi que era você quem me chamava numa língua que eu não entendia, mas que refletia dentro do inconsciente. mas me enganei que tu estavas só, havia quem te seguisse além de mim. e foi quando tudo começou e a gente se juntou, o sujo e o mal lavado, gente da mesma laia. a gente nasceu pra ser triste, e no meu caso, também egocêntrica e vingativa. você, também confusa e levemente depressiva. mas nossas histórias são lindas, ao menos, nada sabe ser mais bonito que a tristeza. e a gente mergulhou na infelicidade de sermos nós, patéticas para o amor, esta coisa ridícula; servíamos para aquele acaso triste, porque também éramos ridículas e também burras, porque é extremamente necessária a burrice no negócio do amor.
hoje somos nada de nada. por mais que eu me pense moderna e desapegada, sei que perdi uma certa disputa, que eu nunca admiti disputar. o orgulho é uma fortaleza feita de cartas, desaparece num sopro. um sopro que sempre sai de você. e aqui vai mais um sopro seu, só seu em minha direção. e de novo vou ter que construir meu castelo de cartas para de novo você soprar e fazer desmoronar tudo em mim. sempre me perguntei até quando ficaria nesta putaria sem graça, e depois de tanto tempo eu ainda não aprendi que não se mede o tal tempo. o que sei é que aprendi a estar nisso tudo e a conviver com esta dor no cotovelo, essa tal disputa não ganha. não de forma pacífica, é claro. eu tive que expurgar estes demônios para você, entenda. eu não choro.
eu acho tudo muito infeliz, mas consigo dizer isto sem ressentimentos. afinal, é também obra minha e muito sinceramente, não vejo conduta da qual me arrepender. eu fiz muito, isso você deve saber, eu fiz muito. talvez fosse melhor ficar em casa, como você queria. mas desde sempre tive o impulso de te contrariar, algo me dizia que eu não devia te fazer exatamente feliz, quem sabe ao menos aflita. aflita é melhor que feliz, eu acho. hoje, acho que nem isso consigo fazer. não te deixo mais aflita, nem nervosa, nem com raiva e nem nada, pelo menos não como eu queria. e me desespero e maldigo a vida a teu lado e rogo pragas para você, porque foi nesta função que me colocastes agora. você devia saber que eu sou uma criança pirracenta atrás de um sorvetinho. e que, pra minha cabeça, não existe meio termo possível, nada de esperanças. diferente de você, que admite todos os meio termos e acredita que o tempo muda as pessoas.
hoje, eu queria nas minhas mãos a melhor pistola americana só pra matar toda essa raiva, todo esse sentimentozinho chato que tem dentro de mim. acabaria com uma ou duas pessoas e sairia por aí, fugindo da polícia pelo brasil, arrumando briga com o diabo, deus do meu lado, eu ia me esconder no sertão. você, eu queria esquecer e só de pirraça matar o vagabundo que te tirou de mim, te mostrar que você estava errada. não adianta, nada do que a gente faça será possível pra nos tornar, quem sabe um dia, dignas. a gente já bagunçou toda a casa e se quisermos viver, teremos que viver dentro dela assim. vai ver era pra ser desse jeito mesmo, amando e odiando sem fim.
hoje eu tô possessa, mas o meu orgulho é maior. só não é maior que você. mas você não sabe disso. aliás, você não sabe de muita coisa assim como eu também não sei que muita coisa é mentira pra mim e pra você. porque somos burras uma para a outra, e talvez o maior sinal de amor seja este, a nossa burrice. e chega a ser tão ridículo que eu tenho certeza que isso é coisa de deus. ou do cão, vai saber. sendo quem for, já se divertiu e agora se cansou, nos jogou fora numa casa de adoção. teu dono veio te buscar e eu fiquei porque o meu nunca existiu, e eu resolvi fugir por aí com outros de rua, como eu.
hoje eu tô nessa de perdida, me jogando em esquina de bar, me passando por rica.
não acredita em nada, coração. é tudo mentira, é tudo mentira.
um dia a gente esquece o ódio e volta a amar;
que dia ?